Antonio Banderas e Elena Anaya em cena de "A Pele que Habito"

Maior órgão do corpo humano, a pele é uma fronteira que separa o homem dos outros seres vivos. Expõe as marcas do tempo, revela nossas experiências e nosso estado emocional, reflete as nossas raízes e as diferenças biológicas e geográficas. Uma camada superficial do corpo que revela muito do que somos e o que já passamos. Ao contrário do que possa parecer, o filme de Almodóvar não se limita ao estudo científico da pele e tampouco suas peculiaridades estéticas. O que há por trás do filme é uma complexa discussão moral envolvendo amor, ódio e vingança.

«A Pele que Habito» conta a história de Richard Legrand, um renomado cirurgião plástico que trabalha incansavelmente em um projeto misterioso onde deseja obter «fórmula da pele perfeita». Toda essa obsessão tem um motivo. Richard viu a sua vida desmoronar após perder sua esposa num trágico acidente onde a mesma teve o corpo completamente incinerado. Buscando uma espécie de redenção, ele parte em busca do seu objetivo não levando em conta os métodos que serão utilizados para isso.

O personagem, interpretado com maestria por Antonio Banderas, é um tipo incomum e claramente desequilibrado. Richard mantém uma mulher misteriosa em cativeiro na sua casa (que possui um laboratório e um mini centro cirúrgico). Até certo ponto do filme, não sabemos porque ela foi a escolhida, qual é a sua origem e sua motivação de estar ali. Aos poucos percebemos que o sofrimento de Richard vai além da morte da esposa e que sua obsessão é motivada não só por amor, mas também por vingança. Revelar mais do que isso significaria estragar a virada da história.

Através de flashbacks, o filme vai construindo uma sequência de fatos que prendem o espectador numa tensão absurda. Não há exageros de efeitos, trilha sonora e movimentos de câmera. O terror vem da possibilidade de aquilo tudo acontecer na «vida real». A escolha de ambientar o filme em 2012 (um futuro próximo, já que o filme é de 2011) foi proposital e me parece bastante pertinente em tempos de uma incensante busca da perfeição técnica.

Almodóvar não poderia ter escolhido um argumento tão interessante para um filme diferente de tudo que já fez na carreira. Um terror psicológico que explora a fundo a obsessão de um Frankenstein moderno.

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