Vocês já pensaram, ao ver um filme, que gostariam de ter tido aquela ideia? Já se perguntaram «mas por que eu não pensei nisso antes?» Eu já. Algumas vezes. E aproveito pra listar aqui três filmes que me provocaram essa sensação.

1) Dizem por aí… (Rumor Has It, 2005)

Ok, é apenas uma das comédias românticas da Jennifer Aniston, mas é que taí algo em que eu gostaria de ter pensado. Acho genial que alguém tenha tido a seguinte sacada: «ei, e se a gente filmasse a história de ‘A Primeira Noite de um Homem’, como se fosse real?»  Pra quem não conhece, «A Primeira Noite de um Homem» (The Graduate / 1967) narra o envolvimento entre o inocente Ben Braddock (Dustin Hoffman) e a experiente e maliciosa Mrs. Robinson (Anne Brancoft). No filme, uma confusão e tanto se dá quando Ben, após se envolver com Mrs. Robinson, se apaixona por sua filha, Elaine (Katharine Ross). «Dizem por aí…» (Rumor Has It / 2005) parte da premissa de que tudo aconteceu de verdade com uma família de Pasadena, nos EUA. Segundo o filme, não apenas mãe e filha se envolveram com o mesmo homem, mas também a neta. Acho simpática e criativa a ideia de dar uma continuação à história de Ben Braddock e Mrs. Robinson, principalmente porque o filme é bem humorado e não se leva a sério. Além do mais, há referências deliciosas sobre elenco e o filme de 1967, música-tema tocando ao fundo e uma participação interessantíssima da veterana Shirley McLaine.

2) A vida em preto e branco (Pleasantville, 1998)

Já imaginaram trocar de vida com os personagens daquele seriado que você adora? Pois é o que acontece em A Vida em Preto e Branco (Pleasantville / 1998), em que os irmãos David (Tobey Maguire) e Jennifer (Reese Witherspoon) são levados pra dentro de «Pleasantville», um sitcom de 1958 do qual David é super fã. Em Pleasantville o bom humor coletivo nunca é abalado e o time de basquete local perder uma partida é o maior problema em que se pode pensar. É nessa cidade fictícia, em que todos são aparentemente cordiais e felizes, que David e Jennifer vão parar, assumindo o lugar dos irmãos Bud e Peggy Sue, filhos adolescentes da família Parker, protagonista do sitcom. Jovens moderninhos dos anos 1990, eles precisam desempenhar o papel de adolescentes caretas dos anos 1950, cuja única preocupação é não se atrasar para o jantar em família. O legal é acompanhar as implicações desta situação tão surreal para os dois jovens e para os habitantes do lugar. Legal também é observar a forma interessante como o filme trabalha a variação entre o P&B e o colorido das cenas.

3) Bobby (Bobby, 2006)

Outra ideia bacana é a do filme «Booby» (2006), escrito e dirigido por Emilio Estévez e estrelado por um grande (em número e em prestígio) elenco. O filme tem como mote o assassinato do então Senador e presidenciável Robert Kennedy. Até aí nada demais. Não é original contar essa história ou mesmo explorar as tragédias que envolveram a família Kennedy. Mas acontece que o foco do filme é outro e é aí que está a sua criatividade. «Bobby» se concentra nos hóspedes do Hotel Amabassador, em Los Angeles, onde o Senador era esperado para uma festa do Partido Democrata e onde o assassinato aconteceu. Há o dono do hotel e sua relação extra conjugal, a cantora alcoólatra, o nostálgico porteiro aposentado, o casal em crise, a jovem que se casa com um rapaz pra livrá-lo da Guerra do Vietnã, a equipe de jornalistas responsável pela cobertura do evento e muitos outros. Pode parecer personagem demais pra um filme só, mas «Bobby» dá conta de todos eles e ainda concilia isso com uma abordagem documental, mesclando ficção e cenas reais do atentado.

São filmes até bem simples e pouco ambiciosos, mas que chamam a atenção pela engenhosidade das ideias ou pela forma criativa com que revisitam temas explorados por outras produções, apontando perspectivas originais.

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