urlNo momento de sua criação lá na década de 90 Deadpool não era um personagem exatamente original, na verdade é possível argumentar que o desenhista picareta Rob Liefeld simplesmente plagiou descaradamente o personagem Slade Wilson, o Exterminador, do universo DC, tanto que o roteirista que trabalhava com ele no momento, Fabian Nicieza, jocosamente o chamou de Wade Wilson, indicando o parentesco com o personagem da DC. Felizmente o personagem ganhou uma personalidade própria anos depois, se tornando uma espécie de paródia dos anti-heróis que invadiram os quadrinhos mainstream dos Estados Unidos nos anos 90.

Para aqueles que não conhecem o personagem, Wade Wilson era um mercenário que, sofrendo de uma doença terminal, se candidatou a um experimento do projeto Arma X (o mesmo que deu o adamantium ao Wolverine) que lhe deu um poderoso fator de regeneração. Os experimentos, entretanto, o tornaram completamente insano e esquizofrênico e em sua loucura se deu conta de que é um personagem de quadrinhos. As histórias envolvendo o mercenário falastrão são carregadas de um humor sem noção e constantes quebras da quarta parede, com Deadpool constantemente dialogando com os leitores.

Pois este espírito demente e anárquico é um dos principais pontos fortes deste Deadpool: The Game, a história começa justamente com o personagem tentando convencer o presidente da desenvolvedora High Moon (a empresa que fez o game) a realizar um jogo sobre ele e a partir daí embarcamos na mente louca do personagem enquanto ele tenta bolar um roteiro para o jogo. A história não é lá grande coisa e envolve um plano do Sr. Sinistro para destruir o mundo e Deadpool precisa impedi-lo, contando com a ajuda de outros personagens do universo mutante como Cable e Wolverine.

Apesar da premissa simplória, o game é bastante competente em mergulhar o jogador na mente insana de Deadpool, que constantemente dialoga com vozes em sua cabeça e toma as decisões mais absurdas sobre como prosseguir, enchendo o jogo com o humor retardado e sem noção que é característico do personagem. Um exemplo é o momento em que usamos os próprios balões de pensamento do personagem para atravessar um rio tóxico. Há de se destacar também o mérito do dublador Nolan North (que também faz a voz do Drake de Uncharted), que capta muito bem a loucura do mercenário falastrão.

Se a narrativa é anárquica, o mesmo não se pode dizer da jogabilidade que apenas apresenta uma forma requentada da ação de ataques e contra-Deadpool-4-Lookout-behind-meataques da recente série Arkham do Batman. Deadpool luta com armas corpo-a-corpo como espadas e marretas e armas de fogo como pistolas e rifles, entre um ataque e outro precisa usar sua habilidade de teleporte para esquivar e contra-atacar. Tudo muito convencional, sem brilho e sem inovação. Ainda é possível acumular pontos para adquirir e evoluir as armas e habilidades, mas estas não agregam nada ao gameplay, se limitando a aumentar o dano ou a velocidade, mas nunca mudando o modo de jogar.

A progressão do jogo é bem linear, o que não seria um problema por si só, mas mas cenários se apresentam de forma bastante genérica e os ambientes não possuem nada de notável ou interessante, oferecendo aquele esquema tradicional de fase na floresta, fase no escritório e daí por diante. O único momento de quebra e mudança é quando o jogo se torna uma espécie de jogo de aventura com visão de cima, como os antigos Zelda de Super-Nintendo.

Os inimigos também oferecem pouca variedade. Como o Sr Sinistro é um mestre em clonagem, o game usa isso como desculpa para usar os mesmos capangas do início ao fim tornando os combates repetitivos e pouco estratégicos. Além disso. os inimigos apresentam texturas bem pobres se comparadas às do protagonista, algo que não faz muito sentido já que existem apenas um punhado de modelos de antagonistas. Outro problema é a câmera, em especial pelo modo como ela se reposiciona depois de um teleporte, obrigando o jogador a reajustá-la constantemente.

Depois na curta campanha (cerca de seis a oito horas) não resta muito a fazer, não há itens colecionáveis para coletar ou uniformes para desbloquear, algo bem incomum para um game baseado em quadrinhos onde sempre há modelos de personagens, uniformes e capas de revistas para colecionar. O único outro modo é o “Challenge” que basicamente é um modo sobrevivência que te coloca em arenas fechadas para sobreviver a hordas de inimigos.

Deadpool: The Game vale a pena pelo bom humor e narrativa sem noção, certamente agradando aos fãs do personagem. Uma pena que todo resto, em especial a jogabilidade, não estar a altura do espírito insano do jogo, sendo tudo bem convencional e derivativo, apelando apenas para aqueles que desejam uma pancadaria desenfreada sem muita profundidade ou inovação.

Nota: 6/10

Obs: O texto foi feito com base na versão para PC. O game também está disponível para PS3 e Xbox360.

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