20480410_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxÉ muito triste quando vemos um competente ator veterano chegar a um ponto de sua carreira onde ele passa anos se limitando a aparecer basicamente como ele mesmo (ou como a persona pública que criou para si) em filmes sofríveis que desperdiçam seu talento. Acontece com Robert De Niro (que voltou a ter um papel digno somente ano passado com O Lado Bom da Vida), e com dois dos protagonistas deste Amigos Inseparáveis, Al Pacino (até hoje não entendo como ele foi parar no horrendo Cada Um Tem a Gêmea que Merece) e Christopher Walken. Do trio principal apenas Alan Arkin parece manter uma consistência, tendo participado de projetos premiados como Argo (2012) e Pequena Miss Sunshine (2006), além de projetos com sucesso modesto como Agente 86 (2008). Dito isto, é ótimo constatar que Amigos Inseparáveis dificilmente irá constar no rol de recentes porcarias homéricas feitas por Pacino e Walken.

O filme acompanha o mafioso Val (Al Pacino) em seu primeiro dia de liberdade depois de passar vinte e oito anos preso e seu reencontro com os amigos da velha guarda, Doc (Christopher Walken) e Hirsch (Alan Arkin). O dia do trio, entretanto, não é apenas nostalgia, já que o mafioso Claphands deseja eliminar Val como vingança por ter matado seu único filho e contratou Doc para isso. Assim, Doc planeja aproveitar o tempo que resta ao lado do amigo.

Assim, a fita investe majoritariamente na comédia enquanto o trio de senhores tenta aproveitar a vida, mas sentem a idade pesar, como no momento em Doc leva Val a um prostíbulo e este se mostra incapaz de “funcionar” e precisa arrumar algumas pílulas para impotência ou na necessidade de Hirsch em dirigir rápido para evitar cochilar caso dirija devagar demais. O roteiro ainda abre espaço para deixar que os velhos mafiosos reflitam sobre suas vidas e as escolhas que as arruinaram, tornando-os indivíduos solitários e amargos.

É tudo meio clichê e não há nada realmente de novo, mas são as performances do trio principal que torna o filme algo mais que apenas mais uma comédia dramática. Pacino (apesar do bizarro implante capilar que o acompanha há alguns anos) e Walken mostram que ainda têm muita lenha pra queimar e que estão acima das péssimas produções que vêm participando. Aos três soma-se ainda o talento de Julianna Margulies (da excelente série The Good Wife) como a filha de Hirsch e o timing cômico de Lucy Punch (a “vilã” de Professora sem Classe) como uma cafetina.

Além de previsível, o roteiro tem alguns problemas, facilitando demais as coisas para os protagonistas, principalmente quando eles roubam o carro de uma gangue de mafiosos russos. Por mais o filme explica o fato do carro estar aberto e com chave, é de se estranhar que os mafiosos não deem por falta do veículo ou tenham algum tipo de GPS ou rastreador para localizá-lo. Do mesmo modo, é igualmente esquisito que a polícia simplesmente deixe por isso mesmo o momento em que o trio despista duas viaturas ao dirigir perigosamente em uma ponte. Outro ponto negativo é o desnecessário final deixado em aberto, já que todo o desenvolvimento da trama aponta praticamente para apenas uma possibilidade de final para a jornada dos protagonistas.

Amigos Inseparáveis pode não representar a volta do Al Pacino em grande estilo, mas é uma prova que o ator veterano ainda é capaz de segurar um filme e compor um personagem que vai além dos trabalhos em piloto automático que o ator (assim como o Walken) vem fazendo ultimamente. Assim sendo, é o talento dos atores veteranos que torna o filme uma experiência verdadeiramente apreciável, apesar dos problemas.

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