Intocáveis vem sendo descrito por toda a parte como um grande sucesso de público. É a maior bilheteria internacional do cinema francês desde «O Fabuloso Destino de Amelie Poulain», arrecadando mais que o dobro que «O Artista». Trata-se de uma comédia que, apesar do fundo dramático, resulta num «feel good movie».
Intocáveis retrata o relacionamento entre o empresário Phillipe e seu auxiliar, o imigrante senegalês Driss. Milionário que ficou tetraplégico num acidente de parapente, Phillipe precisa de um cuidador em tempo integral para ajudá-lo em suas necessidades mais básicas, como se vestir, alimentar e tomar banho. Em meio a uma seleção para o cargo, ao invés de contratar candidatos aparentemente preparados, com formação e experiência neste tipo de trabalho, resolve escolher Driss, um ex-presidiário que só está lá para conseguir uma assinatura que lhe permita continuar recebendo auxílio da previdência social.
A motivação de Phillipe em contratar Driss é que, dentre todos os candidatos, ele foi o único que não o enxergou através da pena, indo além da sua deficiência – e, por vezes, inclusive, esquecendo-se dela. Embora a história tenha um pano de fundo dramático, envolvendo questões como imigração (tema polêmico para a França), desigualdade social, delinquência e outras questões delicadas como a própria condição física de Phillipe, Intocáveis é por todo o tempo uma comédia, na qual assistimos os protagonistas fazerem graça de tudo, a exemplo do fato de a sensibilidade erótica de Phillipe resumir-se às suas orelhas. Onde esperamos melodrama, encontramos sempre leveza e humor, pois não é pretensão do filme aprofundar qualquer tipo de questão que não seja a amizade dos personagens principais.
O foco nos personagens, nessa relação divertida e harmoniosa que se estabelece entre eles, é reforçado pela competência com que os atores François Cluzet e Omar Sy desempenham seus papeis. Ambos carismáticos e sensíveis, os atores rapidamente fazem com que o espectador se envolva e se deixe cativar. Essa identificação é facilitada pela forma como a história soa familiar ao público, pois Intocáveis nos remete àquele tipo de filme bem conhecido em que uma situação improvável se inicia quando pessoas de «mundos diferentes» se encontram e iniciam uma amizade sincera. O diferencial é que, para além de ficção, os personagens existem de verdade. Intocáveis é a transposição para o cinema dos livros de memórias de Phillipe Pozzo di Borgo, aristocrata francês, e Abdel Sellou, imigrante argelino que foi seu cuidador durante dez anos. Os dois são, até hoje, melhores amigos e podem ser vistos em imagens que aparecem ao final do filme. Dado o sucesso de Intocáveis, está previsto um remake norte-americano, com o ator Colin Firth cotado para o papel de Phillipe, e sem o envolvimento de Olivier Nakache e Eric Toledano, diretores e roteiristas do original francês.
