O Carnaval é um período onde a TV, tanto aberta como fechada, tem uma péssima programação. Salvador, fora do circuito da folia, se apresenta como uma cidade estagnada e sem nenhuma opção de lazer, a não ser os cinemas e apenas quando abrem.

Por isso, resolvi fazer um guia especial para um Carnaval Nerd repleto de quadrinhos!

Vamos começar por um TOP 10 de Revistas em Quadrinhos para se ler nos dias da folia momesca.

10 – Superman – Identidade Secreta:

 

Kurt Busiek e Stuart Immonen criaram um marco moderno nessa Graphic Novel, a qual conta a história de um jovem chamado Clark Kent. Não, a história não se passa dentro do Universo DC e sim totalmente fora dele. Clark é um garoto real que mora no Kansas e odeia o nome que lhe foi dado em um momento de humor por seus pais.

Isolado de todos por ser nerd, sem namorada ou amigos, Clark tem uma vida pacata e atribulada como todo jovem americano do meio-oeste, intensificada pelo nome famoso que nada lhe favorece. Um dia, ele descobre ter todos os poderes do Superman dos quadrinhos.

Com um enredo simples, Kurt Busiek consegue criar uma pérola dentro do universo do Superman, onde Clark começa a agir como o herói que o atormentava. Vestindo a famosa capa vermelha, esse Superman não aparece nos noticiários, não é ovacionado e nem um ícone norte-americano. Clark Kent só quer fazer o bem com seus superpoderes, mas sem ser descoberto pelo governo dos EUA, para que não seja preso e dissecado como objeto de estudo.

A última página é de encher de lágrimas os olhos de qualquer fã do Homem de Aço.

 9 – Y – The Last Man:

Yorick é um jovem com um futuro indefinido. Trabalha fazendo apresentações como mestre de fugas, ao mesmo tempo em que namora Beth, o grande amor da sua vida. Enquanto Beth estava na Austrália, Yorick criava coragem para pedir sua amada em casamento, quando todos os seres vivos que possuem o cromossomo Y, ou seja, todos os machos da Terra, morrem.

Ele e seu macaco, Ampersand, se tornam os dois últimos representantes do cromossomo Y e têm a dura tarefa de salvar a espécie humana. O enredo, a priore, pode parecer um sonho de um adolescente de 15 anos: ser o último homem vivo no mundo. Porém, Brian K. Vaughan (ex-roterista de Lost), cria uma revista densa, com um grande teor político e uma crítica ferrenha a sociedade e sua dominação patriarcal.

O mundo entra em colapso, pois os homens impediram as mulheres de subir profissionalmente e se destacarem em certas profissões. Com isso, usinas nucleares derretem, aviões deixam de existir, uma vez que não há mulheres para pilotar aviões comerciais, e praticamente todos os países ficam sem um líder, pois mantinha-se as mulheres longe da política. Essa situação faz com que a Agente 355 e a Bioengenheira Allison Mann possuam a tarefa quase impossível de proteger Yorick e seu macaco, clonar os dois e ainda saírem vivas de um mundo apocalíptico. Detalhe interessante: toda a revista é desenhada por Pia Guerra, uma das melhores desenhistas de quadrinhos da atualidade.

 

8 – Batman – O Cavaleiro das Trevas:

Bruce Wayne se aposentou da guerra contra o crime em Gotham City. Porém, aos 55 anos, a cidade que tanto ama não o deixa se aposentar. Decidido a voltar a ativa, Bruce volta ao ser o Batman, mais violento, mais impaciente e por incrível que pareça, mais forte do que antes.

Essa é a revista definitiva do Batman. Frank Miller criou um clássico que mudou a história do personagem. Antes visto como um personagem meio infantil, devido a terríveis tentativas da DC de aproximar o herói dos quadrinhos ao herói da série cômica da TV, o Cruzado de Capa agora é visto com respeito e temor.

Uma história tensa, com um teor extremamente adulto, mostrando o Batman atingindo o crime no coração da organização, quebrando literalmente seus bandidos e dando uma surra no Superman. É algo que todo fã de quadrinhos deve ler.

 

7 – Watchmen:

A obra prima de Alan Moore e Dave Gibbons mostra o vigilante Rorschach investigando o assassinato do ex-vigilante, conhecido como Comediante. Tudo isso em volta do ápice da Guerra Fria, onde EUA e a URSS estavam a minutos de criarem a 3ª Guerra Mundial, com armas atômicas apontadas para todos os lados.

O roteiro de Alan Moore é denso, envolvente e cria uma atmosfera jamais vista nas histórias em quadrinhos, mostrando os heróis como seres humanos reais, fadados ao fracasso, com inveja, alegria, tristeza, problemas sexuais, relacionamentos conturbados e tudo o que as pessoas comuns passam.

Cada movimento, cada quadrinho, cada fala é especial. Desde a criação do Dr. Manhattan ao relacionamento do Coruja com Silk Spectre e a posição esnobe de Ozymandias. Tudo se junta como um quebra-cabeças de suspense até o ato final, onde fica a eterna pergunta: Os fins realmente justificam os meios?

 

6 – Planetary:

Os três Arqueólogos do Impossível, Elijah Snow, um homem que nasceu no primeiro minuto do século 20 e tem controle sobre o gelo, Jakita Wagner, uma mulher dotada de superforça e supervelocidade e o Baterista que tem o poder de ler toda e qualquer informação batendo suas baquetas no ar, fazem parte de uma Organização Mundial denominada Planetary. Essa organização tem como principal objetivo desvendar a história secreta do Século 20.

Warren Ellis cria uma história complexa, cheia de referências a cultura pop de todo o século passado, de Tarzan a Godzilla, passando por momentos históricos reais como o assassinato de John Kennedy e dos quadrinhos, como a Crise das Infinitas Terras. Cada página é uma caça a alguma referência escondida. 

Planetary ganhou inúmeros prêmios por causa do roteiro e da belíssima arte de John Cassaday.

 

5 – Preacher:

Jesse Custer é o pastor de uma cidade do interior dos EUA. Enquanto fazia seus sermões na igreja, uma entidade chamada Gênesis cai literalmente do céu, destruindo e matando todos no local, exceto Jesse. Agora, ele passa a ter essa entidade dentro de sua cabeça.

Gênesis é filho de um anjo e uma demônia e por isso tem um poder superior ao de Deus. Quando Gênesis nasce e cai na Terra, Deus simplesmente desaparece do Paraíso e a partir daí Jesse começa a ter sua vida transformada num verdadeiro inferno.

Ao lado do vampiro beberrão, irlandês e rockeiro, Cassidy e sua ex-namorada Tulipa, Jesse começa uma viagem pelas estradas dos EUA atrás do Todo-Poderoso, enquanto uma organização chamada de Graal manda assassinos para destruí-los.

Preacher é uma série violenta, com personagens coadjuvantes cativantes, como o Cara de Cu, Cassidy e Herr Starr. Suas edições vão do sublime ao surreal em poucos quadros que demonstram histórias tensas, como um galão de gasolina prestes a cair em uma fogueira.

Garth Ennis se apresenta em sua melhor forma mostrando que os quadrinhos podem contar uma história fechada, mesmo dentro de uma história maior. Além disso, Steve Dillon consegue passar toda a surrealidade da cabeça de Ennis em seus belíssimos desenhos.

Um detalhe importante é que a história não tem superpoderes nem heróis, apenas pessoas comuns, anjos e santos assassinos. O único que possui poder é Jesse, através de Gênesis. É o que ele chama de “Poder da Palavra” onde ele pode fazer qualquer pessoa obedecer suas ordens.

 

4-  O Reino do Amanhã:

A história definitiva do Superman. Após ver Lois Lane sendo assassinada pelo Coringa, assim como todos os funcionários do Planeta Diário, o mínimo que o Homem de Aço poderia fazer era levar o Palhaço do Crime à justiça. Porém, Magog, um novo herói de Metropolis, mata o Coringa a sangue frio na frente de todos e recebe apoio da população.

Vendo que o mundo não aceitava seu jeito pacífico de resolver os crimes, ele se isola do mundo e desaparece na sua Fortaleza da Solidão. Anos depois, o mundo está em guerra. Há muito mais meta-humanos do que antes e todos eles seguem a filosofia de Magog: destruir e matar. Cabe ao Superman voltar à ativa e recriar a Liga da Justiça para colocar ordem no mundo.

Mark Waid e Alex Ross criam em “O Reino do Amanhã” um possível futuro na vida dos super-heróis mais poderosos da DC. Um Superman envelhecido e amargurado, um Batman que só consegue andar graças a um exo-esqueleto e uma Mulher-Maravilha que perdeu sua posição de Embaixadora da Paz por ser violenta demais, se traduzem em uma crítica ferrenha aos quadrinhos da década de 90. Onde a violência era a resposta para tudo.

Nessa revista, narrada pelos olhos do Pastor Norman McCay, vemos que nem todas as ações benéficas trazem a paz e que cada movimento que o Superman faz, só aproxima mais o mundo do seu fim.

Além dos pontos citados acima, O Reino do Amanhã mostra que o maior poder do Superman é a sua humanidade.

 

3 – The Walking Dead:

Rick Grimes é um policial de uma cidade do interior de Atlanta, que após uma emboscada contra um carro em fuga, sofre um tiro e fica em coma no hospital. Ao acordar, ele percebe que o mundo que ele conhece deixou de existir e que agora os mortos andam e se alimentam dos vivos.

The Walking Dead é uma história de sobrevivência, tendo como pano de fundo um mundo destruído e cheio de zumbis. Robert Kirkman cria uma história sobre como as pessoas podem sobreviver em um mundo sem esperança. Como ações simples podem acarretar em grandes tragédias e que ser egoísta às vezes pode salvar sua vida.

Ganhadora de inúmeros prêmios, The Walking Dead ganhou uma série de TV pela AMC que segue o mesmo caminho dos quadrinhos, onde o foco não são os zumbis e sim as inúmeras tentativas de Rick Grimes em salvar a si mesmo e a sua família.

Incrivelmente, a revista é toda em preto e branco.

 

2 – Superman All Star:

Uma linda homenagem ao Superman. Logo na primeira página, Grant Morrinson e Frank Quitely conseguem resumir toda a história do Homem de Aço em apenas 4 quadros e 4 frases.

O enredo é focado na última artimanha de Lex Luthor em matar o Superman. Ele joga uma nave de pesquisadores na órbita do Sol e consegue fazer com que Kal-El receba uma dose de energia solar maior do que ele pode processar. Com isso, o que dava poder ao Superman agora o está matando. Sem poder ser curado e com sua morte decretada, o último filho de Krypton decide aproveitar o máximo que pode dos seus últimos dias.

Dar poderes a Lois Lane e se declarar para ela, viajar pelos confins do espaço-tempo, encontrar o Mundo Bizarro, tomar conta de um Devorador de Sóis e ainda escrever no Planeta Diário são tarefas que parecem mudanas ao grande herói, porém tem um grande significado em sua vida. Grant Morrinson faz uma bela homenagem a Era de Ouro dos quadrinhos (período onde nasceu todos os maiores heróis das HQs), ganhadora de diversos prêmios e de uma animação que chega muito próximo a sua matriz.

A capa da edição número 1 é uma das mais lindas dos quadrinhos.

 

1  – Sandman :

Sou mais fã de Neil Gaiman do que Alan Moore. Gaiman consegue trazer realidade em um terreno surreal. Uma história literária, com tons clássicos dentro de uma história em quadrinhos. Sandman é o fiel significado das histórias em quadrinhos como arte.

Publicada pela Vertigo na década de 90, Sandman conta a história de Morpheus, a representação antropomórfica do Sonho. Ele é um dos Perpétuos, que ao lado das suas irmãs, Morte, Desejo, Delírio e Despero e seus irmãos Destruição e Destino, controlam as vontades mais vorazes da humanidade.

A aparência de Morpheus e da sua irmã Morte são praticamente tiradas do cenário punk da década de 80, mas isso em nada atrapalha o andamento das histórias. Só mostra como Neil Gaiman consegue criar uma atmosfera surreal em tudo o que escreve. Contos sobre William Shakespeare, Lúcifer abandonando o inferno e entregando o mesmo para Morpheus, vida e morte, tudo com base nos sonhos da humanidade em um tom nunca visto em uma história em quadrinhos.

Sandman é a única revista em quadrinhos a ganhar um prêmio Pulitzer.

Depois de ler Sandman, nunca mais seus sonhos serão o mesmo. Ainda mais com suas capas!
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