Coisas belas e sujas (Dirty Pretty Things)Há uma glamorização excessiva do estilo de vida em países de primeiro mundo. Mais forte do que isso é a ilusão de que as “oportunidades” surgem facilmente para os estrangeiros nesses lugares, o que raramente acontece.

Já na cena inicial, “Coisas belas e sujas” deixa claro que os imigrantes são a mão de obra que movimenta a economia dos países desenvolvidos. O filme inicia na área de desembarque de um aeroporto em Londres, onde um motorista de taxi oferece os seus serviços para todos que passam no local. Esse é Okwe (Chiwetel Ejiofor), um nigeriano que está ilegalmente em Londres onde trabalha como taxista durante o dia e como recepcionista de um pequeno hotel à noite.

Okwe era médico no seu país, mas foi obrigado a fugir para a capital inglesa devido a uma ameaça de prisão pela morte da sua esposa. Agora sozinho no novo endereço, ele só pode contar com uma pessoa de confiança, Senay (Audrey Tautou, O Albergue Espanhol, Amelie Poulain), uma imigrante turca que trabalha no hotel como camareira. É nesse local que os dois descobrem um esquema repugnante de tráfico de órgãos que seduzia alguns imigrantes desesperados em adquirir um passaporte que possibilitava ir para outro país com outra identidade.

10 mil dólares por um rim e um passaporte. Na cabeça de todos os que se submetiam a aquela prática isso significava liberdade e esse pensamento é bem explorado no filme. Afinal, qual o preço que se paga para ser um “cidadão inglês”? E qual é a postura dos que precisam dos transplantes sabendo a procedência dos órgãos “doados”? A honestidade com que é tratado o tema é uma das virtudes do filme. Existem pessoas que pagam pelos órgãos e outras dispostas a vendê-los, ainda que numa situação de extremo desespero.

Dirigido pelo inglês Stephen Frears, “Coisas belas e sujas” é o perfeito contraponto da Londres que geralmente vemos nos filmes. Os belos pontos turísticos e a inspiração artística da cidade não aparece aqui. No lugar disso, vemos um sistema baseado na degradação e exploração de seres humanos. O filme conta com um roteiro excelente e personagens que passam credibilidade dentro daquele contexto. Uma Europa que pouca gente quer ver.

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