Batman: Earth One é um projeto da DC Comics que visa o mercado de Graphic Novels nos Estados Unidos. Graphic Novels ou Romance Gráfico são publicações com uma longa história fechada, sem necessidade de conhecimento prévio do conteúdo apresentado e sem obrigatoriedade de uma continuação.

Essa nova produção segue o padrão de Superman: Earth One, que apesar de ser um sucesso de vendas, teve críticas bastante negativas, pois alterava muito a história e os personagens clássicos do Superman. Em Batman: Earth One o universo do Homem Morcego também é drasticamente modificado e até mesmo o mais fiel dos fãs fica impressionado com a coragem do autor Geoff Johns.

Geoff Johns (escritor) ousou bastante no texto nessa nova visão dos personagens do universo do Batman e Gary Frank (desenhista) seguiu as mesmas idéias de Geoff e criou o visual do Batman bem mais próximo da realidade. Com uma leve inspiração a caracterização do uniforme visto nos filmes de Christopher Nolan, Gary nos apresenta um Batman que não tem um corpo de fisiculturista e sua máscara não tem os clássicos olhos brancos e sim o olho normal de Bruce Wayne sem o ar fantasioso dos quadrinhos.

A premissa é basicamente contar como Bruce Wayne se tornou o Batman. A morte de Thomas e Martha Wayne continua sendo o pilar fundamental da construção do herói, através da culpa, da raiva e agora com uma pitada maior de vingança. O que diferencia da história clássica é que Thomas Wayne é candidato a prefeito de Gotham City e está a poucos dias de ganhar a eleição e como isso irá mudar na vida dos Wayne-Arkham.

Bruce agora é descendente das duas famílias que praticamente criaram Gotham. Como dito na revista “Os Arkham conceberam Gotham e os Waynes a bancaram”. Martha Wayne antes era Martha Arkham e o gene da loucura dos Arkhams com certeza estava no pequeno Bruce.

A morte dos Waynes acontece após uma tentativa fracassada de atentado do rival político de Thomas, Oswald Chesterfield Cobblepot, que no universo clássico é o Pingüim.  Oswald sabotou o cinema para que a família Wayne saísse por uma porta onde seria assassinada por seus capangas, mas Bruce em um ato de egoísmo e rebeldia sai por outra porta, querendo achar um cinema para ver o filme naquela noite, naquela hora, não em outro momento como pedia seu pai.

Essa atitude faz com que eles saiam em um beco onde encontram um assaltante que após assaltar Martha, ele a mata e depois a Thomas. Com uma dose de culpa similar ao do Homem-Aranha, Bruce cresce sobre a custódia de Alfred Pennyworth, grande amigo do seu pai que lutou ao lado dele na guerra e seria seu chefe de segurança da campanha.

O que realmente me chamou a atenção nessa empreitada da DC foi o Alfred. Sempre vi o Alfred com um homem cordial, mesmo tendo feito parte do serviço secreto britânico e sempre muito sarcástico com a jornada de Bruce como Batman. Aqui ele é um velho com um tom amargo devido as barbaridades que viu na guerra, além de ser um expert em diversos tipos de armas e lutas. A amizade com Thomas começou na guerra, após ele perder a perna e ter sua vida salva pelo pai de Bruce.

Após apresentar o que seria o núcleo central da história, Geoff Johns convida o leitor a um passeio por sua Gotham City. Extremamente caótica e corrupta, onde ninguém está disposto a enfrentar o sistema. Nem mesmo o Tenente Gordon tem coragem de enfrentar os bandidos e segue seus dias apenas sobrevivendo e se mantendo longe de confusões para não comprometer a sua vida e da sua filha Bárbara.

Passado alguns anos após a morte dos seus pais, Bruce retorna para Gotham agora como Batman. Chega ser cômica a primeira cena que o vemos como o Cruzado de Capa. Correndo atrás de um bandido em cima dos prédios, seus gadgets como a batcorda não funciona, ele se atrapalha enfrentando o bandido e não consegue pular de um prédio ao outro, o que o faz cair no meio do lixo.

Esse problema com seus aparelhos foi a saída ideal para apresentar um jovem Lucius Fox, que trabalha em um departamento totalmente esquecido nas empresas Wayne e acaba se tornando o que vemos no filme: a mente por trás das armas do Batman.

Mas a falta de habilidade do Bruce não é superada. É uma visão nua, crua e mais realista do que a que vimos nos filmes de Nolan. Ser o Batman não é fácil, demanda uma força de vontade sobre-humana que é abastecida por sua sede de vingança. Bruce Wayne não tem em mente ficar combatendo o crime para impedir o que aconteceu com ele aconteça com outras pessoas. Sua missão é única e exclusiva de se vingar das pessoas responsáveis pela morte dos seus pais.

Através dessa vingança que o Batman entra em um caminho que irá transformá-lo realmente no personagem que conhecemos. Aprendendo vez por vez seus erros, que são muitos, dominando sua fúria e construindo algo maior que um vigilante fantasiado correndo sobre os prédios escuros de Gotham.

O roteiro é bastante competente e coeso. Geoff Johns se tornou um escritor de ponta reconstruindo o Universo DC através do Lanterna Verde e entrega um Graphic Novel muito melhor que o do Superman, escrito por Jeph Loeb.

Gary Frank é um desenhista a qual sou suspeito para falar. Sou fã da sua arte realista e expressiva desde sempre. As expressões faciais dos personagens, a construção dos cenários, a composições de cenas e da disposição de quadros é uma verdadeira aula de como desenhar uma ótima história em quadrinhos.

A DC Comics acertou com esse lançamento, mesmo tendo enrolado os leitores por três anos, pois aqui é possível ver a criação, sem fantasias, sem glamour e sem ingenuidade da lenda do Batman.

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