O Palhaço“Eu sou palhaço. Faço todo mundo rir, mas quem vai me fazer rir?” (Benjamin)

Se eu pudesse resumir a mensagem de “O Palhaço” em apenas uma palavra essa seria vocação. Estamos tão acostumados a cumprir nossas atividades (trabalho, estudo, hobby) de maneira tão sistemática que às vezes esquecemos se aquilo realmente nos satisfaz ou é apenas mais uma obrigação.

Benjamin (Selton Mello) nasceu no meio artístico e juntamente com o seu pai Valdemar (Paulo José) é responsável pela trupe do circo esperança. Nos palcos, eles formam a dupla “Pangaré & Puro Sangue”, dois palhaços que demonstram um grande talento para fazer rir e levam a alegria por onde passam. Além de Pangaré & Puro Sangue, músicos, dançarinas, e outras figuras peculiares completam a equipe circense que de cidade em cidade apresentam o mesmo espetáculo.

O único problema é que Benjamin não parece feliz com aquela rotina. Ele precisa descansar, precisa repensar a sua vida e buscar a verdadeira realização. Sem identidade, CPF e residência fixa, o palhaço não consegue ter uma perspectiva de vida e passa a questionar se o circo é sua verdadeira casa. Mas o que será que o mundo “lá fora” reserva para Benjamin?

O filme se concentra em responder as questões existenciais do protagonista e ao mesmo tempo apresenta ao público uma visão franca do que é viver sem rumo na estrada. Numa excelente mistura de espetáculo, drama e road movie o ator e diretor Selton Mello consegue emocionar e fazer rir às vezes no mesmo ato, reforçando a graça e ingenuidade presente na figura do palhaço.

O trabalho de cenografia e a equipe de atores possui tanta sintonia que em alguns momentos parece que aquele circo existe mesmo. Da mulher que cospe fogo, interpretada pela belíssima Giselle Mota, aos hilários irmãos Lorotta (Álamo Facó e Hossen Minussi), o elenco funciona de forma muito natural e os diálogos simplesmente fluem com muita naturalidade. Atores mais experientes como Teuda Bara e o já citado Paulo José dão um show em suas interpretações, isso para não falar das excelentes (e inusitadas) participações especiais que prefiro não citar para não estragar a surpresa (de quem não viu a ficha técnica do filme).

Gostaria de deixar aqui registrado que não sou um legítimo fã de circo, e muitos de vocês também podem não ser. Mas é importante deixar claro que “O Palhaço” rompe as barreiras do circo e apresenta uma bela história de vida. É um filme com argumento muito simples, porém muito rico em beleza e sensibilidade. É impossível não se envolver com os personagens e com esse respeitável show que merece ser aplaudido de pé. Recomendo.

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