«O cinema tem vivido um tempo de crise, e a crise é um momento muito interessante para mudanças». (Zelito Viana)

A polêmica sobre a distribuição de conteúdo audiovisual no Brasil está movimentando a sétima edição do seminário internacional de cinema em Salvador. O tema, recorrente em vários eventos de cinema Brasil a fora, mostrou a sua importância logo na abertura do Cine Futuro através da diretora alemã Sonja Heinen. A frente do Berlinale Co-Production Market (evento integrado ao festival de cinema de Berlim), Heinen é uma das responsáveis pelo crescente número de parcerias internacionais na produção de filmes, inclusive brasileiros. Heinen falou de sua experiência no mercado audiovisual e da possibilidade de diálogo entre diretores, produtores e distribuidores no Co-Production Market, além de mostrar alguns critérios utilizados na seleção de projetos. Levando em consideração que os filmes apoiados por essa iniciativa são artísticos (não-comerciais), a dificuldade de distribuição é ainda maior, pois eles possuem um público restrito e específico.

Maria do Rosário Caetano e Zelito Viana falam sobre as
formas de distribuição audiovisual no Brasil

Após a exibição do seu novo documentário, “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”, o cineasta Zelito Viana iniciou um novo diálogo a respeito da situação atual do cinema brasileiro e dos novos caminhos de distribuição que podem ser abertos através das novas mídias. Ao ser questionado sobre sua trajetória no cinema, a primeira resposta de Zelito chamou a atenção: “Nos últimos 50 anos foi lutar contra o cinema norte americano hegemônico, que toma conta de tudo e acho que isso não irá acabar tão cedo”.

O cineasta fez questão de enfatizar a «briga» desleal que existe entre as produções nacionais e estrangeiras. “Existem filmes hollywoodianos que chegam ao Brasil com 1000 cópias. Isso quer dizer que se existem aproximadamente 1800 salas no país, mais da metade delas são ocupadas por um único blockbuster norte americano”. Ele completa:  “O acesso ao cinema tradicional, o de shopping (35mm) está cada vez mais difícil. Virou grife, alta costura”. Mas nem tudo está perdido. Segundo Zelito, a saída é criar canais de distribuição alternativos para informar a existência de um determinado filme. “Hoje em dia com as redes sociais, a gente tem condições de fazer isso facilmente”, afirma Zelito citando um exemplo bem sucedidos no ramo da música.

Tivemos uma rápida conversa com Zelito Viana antes da exibição do seu documentário e questionamos a sua postura pioneira desde «Cabra marcado pra morrer (1984)»de lançar seus filmes fora do eixo Rio – São Paulo, que geralmente é o padrão de distribuição no país. Veja a resposta:

O que podemos concluir é que alguns representantes da nova geração do cinema estão preocupados com geração de conteúdo de qualidade. Além disso, os profissionais desse ramo estão dispostos a se adaptar à um novo formato da produção cinematográfica para só assim vencer a crise que se instalou no mercado brasileiro. Fico feliz ao ver que esse «movimento» (espero que ganhe mais força) tem apoio de cineastas consagrados como Edgard Navarro, Walter Lima e o próprio Zelito Viana. Quem somos nós para fechar os olhos para essa nova realidade?

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