A Fera (Beastly)Há um certo interesse da indústria de filmes hollywoodianos em resgatar velhos contos infantis e dar a eles uma nova cara para que a nova geração os conheça (e consuma). Esse interesse está relacionado fortemente com a falta de roteiros inovadores para cinema, e nisso as adaptações serviram como válvula de escape criativa, dada a produção gigantesca de filmes que existe no mercado atualmente.

Nesse sentido podemos ver bons resultados como «Enrolados», adaptação do conto de Rapunzel feito pela Disney em comemoração aos 50 anos do estúdio ou resultados lamentáveis como «A Garota da capa vermelha». «A Fera», versão moderna de um clássico da literatura, fica no meio termo, compensando a falta de criatividade na adaptação do conto com alguns momentos bonitos visualmente.

A história acompanha Kyle Kingson (Alex Petty), um jovem rico, bonito, inteligente e mimado, que possui uma personalidade detestável. Tudo muda na vida do rapaz quando ele é amaldiçoado por Kendra, uma colega de classe que, após ter sido humilhada por ele publicamente, o condena a viver com uma aparência horrível . Tal como o clássico «A bela e a fera», o feitiço lançado sobre a «besta» só pode ser quebrado quando alguém conseguir amá-lo de verdade.

Na verdade, o filme é uma adaptação de outra adaptação. «A Fera» é baseado no livro homônimo da autora Alex Flinn que por sua vez é uma releitura moderna do conto «A bela e a fera» só que ambientado em Nova York. O ponto interessante é que acompanhamos a história pela visão da fera e vemos como aquele feitiço afetou a vida do jovem e todos a sua volta. O rapaz, que outrora era o «rei do pedaço» bajulado por quase todos na faculdade, agora é obrigado a viver numa casa isolada para não ser visto daquela forma.

Nesse período, o filme tenta lançar algumas reflexões a respeito de amizade verdadeira, relações familiares e o valor da estética na sociedade de consumo, mas faltou alguma coisa. O filme teria tudo para evoluir bem a história original, com a vantagem do público se identificar facilmente com uma história de amor moderna que traz uma certa «lição de moral». Uma pena que elementos bons, ainda que bastante clichê, não tenham sido explorados de uma boa forma.

Tudo acontece rápido demais. Kyle vai do paraíso ao inferno em 20 minutos de filme, entre a sua eleição para presidente do conselho ambiental da faculdade e a maldição que Kendra lança sobre ele. O pai de Kyle, do qual ele herdou todo tipo de preconceito e que teoricamente seria um personagem muito importante na trama, quase não aparece.

A atuação de Alex Pettyfer como protagonista da trama é outro ponto que deixa a desejar. Não é de surpreender que seu nome esteja ligado a projetos ruins como “Garota Mimada” e “Eu Sou o Número Quatro”. Por outro lado, fiquei feliz em ver Vanessa Hudges dominar a cena nos momentos em que aparece. Ao contrário de Pettyfer, a garota tem carisma e expressividade dignas da «bela» na história. Gostei de ver Mary-Kate Olsen no papel de bruxa adolescente, relembrando aqueles filmes bobinhos que a mesma fazia com sua irmã gêmea nos tempos de sessão da tarde.

«A fera» é uma produção que se sustenta pela presença de alguns personagens que conseguem preencher o vazio deixado pela fragilidade do roteiro. Não passa de um entretenimento simples e ingênuo que pode ser encarado como uma sessão da tarde romântica e descompromissada.

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