Splinter_Cell_Blacklist_coverQuando Splinter Cell: Conviction foi lançado em 2010, gerou opiniões divididas entre os fãs fervorosos da franquia que criticaram a abordagem mais agressiva que substituía a furtividade e evasão dos games anteriores pela eliminação silenciosa dos inimigos. Pois bem, a Ubisoft ouviu os fãs e resolveu voltar um pouco mais às origens, devolvendo à Sam Fisher seus óculos de visão noturna e sua abordagem mais voltada para a invisibilidade e equipamentos não letais.

A trama envolve um grupo terrorista chamado Os Engenheiros que começa a realizar uma série de atentados em solo americano exigindo a retirada das tropas dos Estados Unidos de todos os países que eles ocupam. O grupo anuncia que fará um novo ataque a cada quinze dias através da chamada blacklist (lista negra em português), cabe então ao espião Sam Fisher e seus aliados da divisão secreta Fourth Echelon encontrar e deter os terroristas. Para isso contam com o avião Paladin como base de operações móvel enquanto rodam o globo atrás de pistas.

A narrativa é bem amarrada e tensa, cheia de reviravoltas e surpresas, há uma atmosfera de urgência e corrida contra o tempo que poucos games conseguem criar, isso vai desde o relógio de guerra nos monitores do Paladin, que indica quanto tempo falta para o próximo ataque, até as ações dos próprios personagens que realizam atos desesperados e que vão de encontro ao que pensam seus outros aliados para tentar deter Os Engenheiros e conforme a história progride, a relação entre Sam e seus aliados vai aos poucos erodindo. O vilão pode soar um pouco clichê, mas é beneficiado pela competente dublagem do ator Carlo Rota (o Morris O’Brien de 24 Horas), que também empresta suas feições ao personagem, fazendo-o soar como uma presença genuinamente ameaçadora e obstinada, conferindo credibilidade a uma figura que poderia facilmente descambar para uma caricatura banal.

A jogabilidade, como falei, retorna um pouco mais às origens da franquia Splinter Cell, com Sam buscando passar invisível e despercebido pela maioria dos inimigos, derrubando-os com ataques corpo a corpo e armas não letais quando necessário. Isso não significa que os fãs do estilo veloz e agressivo de Conviction ficaram órfãos, primeiramente porque a mecânica de “marcar e executar” foi mantida. Assim como no game anterior é possível marcar até três inimigos e eliminá-los simultaneamente (de forma letal ou não). Pode parecer uma trapaça, já que permite eliminar muitos inimigos apenas apertando um botão, mas o game procura restringir um pouco a apelação, já que após o uso do recurso é preciso eliminar alguns inimigos por conta própria para reativá-lo. Sem mencionar que conforme o jogo avança aparecem alguns inimigos que usam armaduras pesadas que os tornam virtualmente imunes a essas execuções instantâneas, nenhum segmento do game obriga o uso desse recurso, então quem considerá-lo desonesto, basta não usar. Na verdade o jogo oferece uma gama bastante ampla de possibilidades de progressão que podem se adequar aos diferentes jogadores, essas possibilidades podem ser facilmente traduzidas nos três estilos de jogo apresentados pelo game, Fantasma, Pantera e Assalto.Splinter-Cell-Blacklist2

O estilo Fantasma é exatamente esse do Splinter Cell mais tradicional, se esconder nas sombras (as luzes do uniforme acendem quando devidamente escondido), passar despercebido e usar manobras e equipamentos não letais. O Pantera já é mais parecido com o de Conviction, com Sam usando manobras letais para eliminar silenciosamente um a um os inimigos enquanto abre caminho para a próxima área. Já o Assalto é a abordagem mais “pé na porta” consiste em entrar de armas em mão atirando geral. Para cada uma desses estilos o personagem tem uma série de armas e equipamentos, como granadas de fumaça, câmeras remotas e pulsos eletromagnéticos para desabilitar equipamentos de vigilância. Na verdade, a jogabilidade funciona tão bem que os poucos momentos que o game sai disso e nos coloca no controle de drones ou do agente Briggs (mudando a perspectiva de terceira para primeira pessoa), soa como uma interrupção aborrecida ao invés de uma tentativa bem vinda de variar a ação.

Essa abertura na maneira como progredir é também transmitida no design das fases, que exibem ambientes amplos e verticalizados, assim não é possível apenas se esgueirar por corredores avançando nas sombras através de coberturas, mas permitem também que você desvie por tubos de ventilação, se pendure em canos e abra janelas para escalar os espaços por fora, evitando assim os inimigos. Os estágios também contribuem para a sensação de urgência já que em muitos momentos Sam Fisher precisa correr contra o relógio para deter os atentados. Os cenários são belos, bastante detalhados e exibem ótimos efeitos de luz e sombra, o mesmo, entretanto, não pode ser dito dos modelos de personagem, já que, à exceção do protagonista, todos os outros recebem texturas demasiadamente superficiais e animações faciais um pouco truncadas.

Ao final de cada fase o jogador recebe uma pontuação baseada em suas ações ao longo da fase, cada uma delas atrelada a dos três estilos de jogo e com base na pontuação recebe uma quantidade de dinheiro que pode ser usado para comprar armas, equipamentos, trajes de combate e melhorias para o Paladin. Falando no avião, ele serve praticamente como o menu do jogo, pois é percorrendo a aeronave e interagindo com a tripulação e os computadores que Sam vê sua pontuação, missões disponíveis, melhora o avião, compra equipamentos e até mesmo entra no modo multiplayer. O problema é que não há nenhum tutorial sobre onde fica cada coisa no avião, então é preciso explorar tudo por conta própria para achar a opção desejada.

Splinter-Cell-pic-5Os controles funcionam, em geral, muito bem, o problema é que o botão usado para nocautear os inimigos é o mesmo para interagir com os cenários, então muitas vezes me aproximei de um adversário furtivamente para derrubá-lo e ao apertar o botão Sam abriu uma porta ou desligou um interruptor, me fazendo ser visto e ocasionalmente morto ou me obrigando a resolver tudo na bala. Para quem for jogar o game com a dublagem em português, é possível perceber um problema na mixagem e equalização das vozes já que em muitas cenas cada personagem fala em um volume bastante diferente do outro, prejudicando o competente trabalho dos dubladores brasileiros.

Além da história há muito o que fazer, há uma série de missões cooperativas online ligadas a história que podem ser adquiridas falando com os tripulantes do Paladin. Caso não tenha amigo online para jogar, muitas delas podem ser feitas solo também, sendo apenas as missões do agente Briggs obrigatoriamente cooperativas.

Há também o multiplayer competitivo na figura do modo “Espiões vs Mercenários” que oferece partidas de dois contra dois ou quatro contra quatro. Nesse modo, os jogadores são divididos em dois times, os espiões tem uma jogabilidade similar à de Sam e precisam encontrar e hackear terminais eletrônicos no cenário, enquanto isso os mercenários, cuja jogabilidade é similar ao de um jogo de tiro em primeira pessoa, precisam proteger os terminais dos espiões que se esgueiram nas sombras. É um modo instigante e desafiador, que oferece variedade além de ir um pouco além do tradicional funcionamento de dois times atirando um no outro. Assim como na história, ao final das partidas o jogador recebe dinheiro para comprar novos equipamentos para seus avatares (de espião e mercenário) no multiplayer.

Splinter Cell: Blacklist é um game extremamente interessante pelas suas múltiplas possibilidades, boa narrativa e diferentes modos multiplayer.

Nota: 8/10

Obs: Este texto foi feito a partir da versão para PC do game, que também está disponível para PS3 e Xbox360.

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