Deixem-me esclarecer algo, não sou muito fã do primeiro Carros (2006) e gostei menos ainda do desnecessário Carros 2 (2010), assim foi com expectativas bem baixas que fui assistir este Aviões, filme derivado da franquia dos automóveis. Mesmo com as expectativas lá embaixo, o filme conseguiu o feito de estar abaixo delas, sendo mais formulaico, aborrecido e desinteressante do que eu esperava.
A bem verdade, nada justifica o lançamento de Aviões nas salas de cinema (e no caro 3D) ao invés de sair direto para DVD ou exibido no canal a cabo da Disney do que a ganância da casa do Mickey Mouse, já que se trata de um produto extremamente clichê e desprovido de criatividade e carisma. Se lançado no formato caseiro, funcionaria tranquilamente como uma distração pueril para os pequenos, noventa minutos para que eles ficassem quietinhos diante da TV enquanto seus pais fazem outras coisas, mas como atração de cinema não há nada que justifique pagar os caros ingressos atuais.
A trama acompanha Dusty (Dane Cook) um humilde avião do campo que passa seus dias pulverizando fertilizantes sobre colheitas, mas que sonha participar de uma famosa corrida de aviões ao redor do mundo. Em sua jornada encontrará novos amigos e aprenderá valiosas lições de vida e tudo mais que se espera de filme desse, mas para isso precisa superar seu maior temor: medo de altura. Isso mesmo, não estou brincando, o conflito principal do filme gira em torno de uma aeronave que tem medo de altura. Eu sei que é um filme infantil, mas não precisa tratar as crianças (e todos os demais) como idiotas com uma trama tão forçada e sem sentido, é inadmissível que não tenham conseguido pensar em um obstáculo ou conflito melhor. Uma solução tão preguiçosa apenas contribui para a sensação de que este é um caça-níqueis feito a toque de caixa.
A trama progride sem surpresas e de maneira extremamente previsível. Os personagens variam entre um conjunto de clichês desinteressante, como os aviões de diferentes países que participam da corrida, e o aborrecido, como o caminhão-tanque Chug (Brad Garret) claramente um arremedo preguiçoso do já aborrecido Mate da franquia Carros. As corridas entre aviões são relativamente bem realizadas, mas nunca chegam a empolgar nem tem nada de verdadeiramente novo ou criativo a oferecer, a tensão também é praticamente inexistente já que a trama facilita tudo para o protagonista durante boa parte do filme.
No fim das contas Aviões é um filme repetitivo, aborrecido e inócuo, sem a emoção e a criatividade que tornaram tão famosos os filmes da Pixar, uma pena. Claro, as crianças vão se divertir, mas uma criança também se diverte se você der uma caixa de papelão para ela brincar, a diferença é que brincar com a caixa irá exercitar e estimular muito mais a criatividade e imaginação dos pequenos do que este caça-níqueis insosso.
Nota 3/10
at 16:07
Engraçado você simplificar o fato do avião ter medo de altura! É mais ou menos parecido com um pai que critica o filho que está na faculdade porque foi obrigado a isso, mas que ainda não faz ideia exatamente de que cadeiras estudar ou que rumo tomar na vida. Vou usar a mesma palavra que você usou – preguiça – para definir a sua disposição para entender conflitos em uma realidade subjetiva. Todos os aviões voam – alguns com desenvolvimento psicológico e «atributos físicos» que permitem voos mais altos – outros não. Estes últimos ainda podem sonhar com uma vida melhor ou simplesmente se contentar com o que a realidade os impõe. Todos os críticos criticam – alguns com competência e entrega ao desprendimento do mundo real – outros não. Estes últimos não deveriam ver filmes infantis – simples assim. Não estou dizendo com isso que o filme é excelente. É óbvio que ele peca no quesito originalidade. Mas ver publicado a opinião de alguém que chama a bela metáfora do conflito do protagonista de preguiça – sendo que ele mesmo admite, de cara, que não gostou também de Carros – me obriga a sugerir que simplesmente não faça o desserviço de críticas que não lhe competem.
at 16:39
Meu caro, é evidente que percebi a metáfora de auto-melhoria e alcançar vôos mais altos e buscar outras coisas, apontei isso no meu texto, há maneiras e maneiras de ilustrar esse conflito e o modo como o filme faz isso é sim simplório e preguiçoso, já que trata-se de uma mera repetição da metáfora da «ave que tem medo de voar para fora do ninho» que já foi repetida há séculos por toda ficção ocidental, que tal ilustrar isso de outro modo? Ademais, qual o filme infantil que não traz isso, Turbo, que estreou meses antes é exatamente igual, então que motivos eu tenho para assistir a este filme e não qualquer outro? Se há uma ampla gama de obras que já fizeram isso e de maneira mais competente que este filme, porque ir vê-lo? Qual o mérito artístico que esse filme tem se apenas faz aquilo que outros fizeram exatamente igual? E se ele apenas repete o que já foi feito de maneira igual e repetida como não poderia dizer que é preguiçoso? Afinal qualquer um copia algo que já foi feito, mas tentar criar algo diferente ou mesmo apresentar algo conhecido sob uma nova abordagem requer sim um grande esforço artístico e intelectual, mas infelizmente Aviões não faz esse esforço em momento algum. Claro, uma audiência menos familiarizada com este tipo de filme ou com as convenções narrativas que ele usa certamente irá gostar, não há problema nisso, mas qualquer outro, criança ou adulto, com mais repertório e informação certamente achará que é mais do mesmo. Quanto à minha competência, se ver outros textos meus verá que sim, elogio vários outros filmes direcionados ao público infantil e não tenho problema algum em embarcar em um universo mais pueril e ingênuo, então tentar me desqualificar porque tenho «má vontade» com produtos voltados para crianças é uma proposição completamente falsa e equivocada, assim como é sem sentido a tentativa de me desqualificar e me demonizar com o argumento batido do «crítico amargo e mal humorado» ou com o chavão do «não gostou porque não entendeu». Ademais, praticamente qualquer filme exige desprendimento da realidade para ser apreciado, não apenas filmes infantis, então criticar um filme direcionado a este público ou a qualquer outro não é nem um pouco diferentes, assim novamente seu questionamento quanto à minha competência não procede. Quando entro num cinema quero sim me encantar e maravilhar com uma bela história, adoro isso e, como diria o Anton Ego de Ratattouille (um filme infantil, diga-se de passagem) é exatamente por adorar que não aceito qualquer coisa. O fato de ser um filme infantil não da a nenhuma obra carta branca para apresentar uma obra que em momento nenhum tem interesse de oferecer algo genuinamente interessante e diferente ao seu público. Fico feliz que você tenha gostado do filme, mas sinto muito, não me convenceu e apresentei meus argumentos para tal e isso, no entanto, não quer dizer que quero dizer que é errado, negativo ou há qualquer demérito em gostar da obra, tampouco quero com meu texto dar algum tipo de opinião definitiva e inquestionável ou impedir que você ou qualquer outro aprecie este filme.
at 13:12
Você gosta de filmes infantis. Que bom que eu estava enganado! Além do mais, Aviões sempre esteve longe de ser um filme exemplar. Só achei superficial demais o comentário «não estou brincando, o conflito principal do filme gira em torno de uma aeronave que tem medo de altura». Além do mais, dizer que a trama do filme é «tão forçada e SEM SENTIDO» não é exatamente o mesmo que dizer que é uma ideia sem originalidade nenhuma. As pessoas que estão lendo a crítica poderiam pensar que não faz sentido um personagem, só por ser uma aeronave, ter medo de altura. Isso sim seria uma bobagem. Concordo com a falta de originalidade do filme. Aliás, já tinha concordado com isso desde o meu primeiro comentário. Mas que bom que eu estava enganado sobre as suas preferências então!