O culto à fama e às celebridades costumeiramente gera situações bizarras onde as pessoas tentam se aproximar de seus objetos de adoração ou alcançar a fama e o estilo de vida dos famosos. The Bling Ring: A Gangue de Hollywood é uma dessas histórias e é tão inacreditavelmente estúpida que não acreditaríamos se não tivesse, de fato, ocorrido e a diretora Sofia Coppola usa essa premissa para parodiar e questionar os valores de nossa sociedade.
A trama acompanha um grupo de jovens californianos que aspiram a fama e a ostentação das celebridades e começa a invadir as casas de grandes estrelas para roubar suas roupas e acessórios de marca. O grupo não é lá muito inteligente, já que vestem os produtos de roubo, postam fotos das invasões em redes sociais, torram todo o dinheiro que arrecadam com festas, drogas e mais roupas, além de parecer não se importar em serem pegos pelas câmeras de segurança das casas ou de terem seus roubos expostos pela mídia. Na verdade, eles parecem gostar da atenção, mesmo depois de formalmente presos e acusados. Em determinado momento um personagem diz que recebeu mais de 800 solicitações de amizade em uma rede social após ser preso e com um sorriso diz que as aceitou sem sequer olhar quem era, apenas pela satisfação de ter tanta gente interessada nele.
O destaque fica por conta de Emma Watson, que rouba a cena cada vez que aparece com sua Nicki, uma jovem incrivelmente fútil que se preocupa apenas em conhecer celebridades e vestir roupas caras. Suas falas reproduzem com exatidão o discurso vazio e autoindulgente da grande maioria das celebridades e todas as suas cenas que se passam durante o julgamento da gangue são simplesmente hilárias pela sua cara de pau e seu discurso falso e ensaiado de arrependimento.
É bacana o modo como a diretora vai passeando pelas diferentes variáveis que poderiam gerar esse tipo de comportamento. Desde a imprensa que noticia cada mínimo detalhe da vida das celebridades e estabelece padrões de moda e de estética impossíveis de serem alcançados por um cidadão comum, passando pela família (ou ausência dela) e as próprias celebridades, cuja conduta pode servir como exemplo para outras pessoas.
Assim, é interessante perceber como essas relações são traçadas pelo filme. Os pais dos protagonistas são presenças quase que fantasmagóricas, são vozes atrás da porta ou ao telefone, quando aparecem são apenas para dar um tchau antes de ir para escola ou são presenças completamente tresloucadas. A personificação disto é Laurie (Leslie Mann) a mãe sem noção de Nicki que distribui remédios psicotrópicos para as filhas como se fossem balas e cujos “ensinamentos maternos” se reduzem a citar livros de autoajuda.
Ao mesmo tempo, o filme ilustra como, conscientemente ou não, as atitudes das celebridades se relacionam com as das personagens. Deste modo, depois de mostrar uma das personagens lendo repetidas matérias sobre celebridades presas por dirigirem embriagadas, não é surpresa que ela termine por se envolver em um acidente e seja presa exatamente por dirigir alcoolizada. Em outro momento a personagem Rebecca (Katie Chang) diz adorar Lindsey Lohan e o filme insere sobre a sua fala um vídeo com uma reportagem (verídica) da atriz sendo presa por roubo, o mesmo crime que a personagem está cometendo.
A trilha sonora ilustra o estilo de vida movimentado e barulhento dos personagens, investido em pesadas músicas eletrônicas e canções pop que refletem (ou seria “influenciam”?) a visão de mundo deles como letras como “live fast, die young” (viva rápido, morra jovem). Assim o fazem também os ambientes das casas grandiloquentes cheias de vidro e espelho, como se fossem uma ode ao ego de seus donos. Inclusive, devo dizer que Paris Hilton, que emprestou a casa para ser usada como locação, deve ter um grande senso de humor ou então não tem a menor noção da imagem que projeta para as pessoas, já que o filme parodia exatamente comportamentos de ostentação vazia e egocêntrica como os dela. Ao andar pelas dependências de sua casa diferentes personagens ressaltam “nossa, quanta coisa ela tem!”.
Dito isto, o filme tem seus problemas, em especial no meio da projeção, onde vemos repetidas cenas do grupo invadindo casas, experimentando roupas e usando drogas que acabam tornando a experiência um pouco redundante e tediosa, sendo que este tempo poderia ser usado para fortalecer e aprofundar a narrativa. Por outro lado, esta parece uma escolha consciente da diretora Sofia Coppola, cujas obras costumeiramente tratam do vazio e do tédio das classes abastadas, como em Encontros e Desencontros (2003) e Maria Antonieta (2006). Assim sendo, essa escolha pela redundância parece casar bem com a sua, digamos, “poética do tédio”, ressaltando o vazio da vida dos personagens e como eles não têm nada melhor para fazer a não ser repetir as mesmas festas e drogas todos os dias, tentando suplantar seu vazio interior com roupas de marca e delírios de fama, mas ainda assim é quase que inegável que suas intenções são diluídas por essa escolha, deixando-as de modo pontual e meio bagunçado ao longo do filme. Esses problemas, entretanto, são superados pelo terceiro ato do filme, que amarra bem a narrativa e deixa claras os intentos da realizadora.
The Bling Ring: A Gangue de Hollywood é uma inteligente sátira da obsessão por fama e status social tão presentes em nossa sociedade, construindo uma visão interessante sobre a juventude contemporânea.
Nota: 8/10
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