ARGO_-_Blue_Character_BenDo início ao fim este filme dirigido por Ben Affleck se mostra bastante preocupado em assegurar ao seu espectador o quanto está sendo fiel à realidade em seu retrato da crise envolvendo a invasão a uma embaixada americana em Teerã, capital do Irã, em 1979 durante o auge da revolução que derrubou o xá Reza Pahlevi e levou ao poder o aiatolá Khomeini. No início acompanhamos um relato bastante didático que mistura histórias em quadrinhos com imagens de arquivo que contextualizam a revolução iraniana, deixando claro o papel do governo americano na instauração da ditadura do xá e o posterior asilo político dado a ele que motiva a revolta dos iranianos. Já no fim, o diretor contrapõe imagens do próprio filme com imagens e gravações de arquivo, demonstrando o quanto sua obra está próxima dos eventos reais.

Talvez essa preocupação venha do fato da recente popularização dos falsos documentários que brincam com as percepções de realidade da audiência nos tenham deixados mais cínicos quando vemos os dizeres “baseado em fatos reais” ou talvez seja motivada pelos próprios eventos narrados que parecem saídos de um filme de espionagem da década de 60.

Explico: No intento de trazer de volta seis diplomatas que escaparam da invasão à embaixada antes que sejam descobertos pela inteligência iraniana, o agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck) pede ajuda ao produtor hollywoodiano Lester Siegel (Alan Arkin) e ao maquiador John Chambers (John Goodman) para forjarem a produção de um filme ficção cientifica que deseja usar o Irã como locação e então entrar no país disfarçado de produtor e tirar os diplomatas como se fossem membros de sua equipe.

Com uma premissa dessas parece bastante justificável que a direção de Affleck faça uso de telejornais e programas de TV da época, bem como o áudio de discursos do presidente Jimmy Carter para nos lembrar da dimensão real de tudo aquilo.

É bastante interessante também a alta dose de cinismo do filme, tanto nas críticas à politica externa intervencionista dos Estados Unidos (que foi a responsável por toda a crise), à futilidade e o jogo de aparência dos bastidores de Hollywood e até à própria revolução iraniana. A cena em que Tony chega a Teerã e se depara com a queima de bandeiras americanas e pichações comparando a CIA ao diabo lado a lado com os cidadãos que comem tranquilamente no fast-food da franquia Kentucky Fried Chicken é um exemplo claro do humor cínico adotado pelo filme.

Embora haja humor é evidente que a obra não possui somente comédia. Na verdade, as cenas dos bastidores de Hollywood e da própria CIA funcionam como um excelente contraponto à tensão e a urgência das cenas com os refugiados iranianos são sempre onde sempre parece que eles estão próximos a serem descobertos. Na verdade, os obstáculos são tantos (principalmente na cena final) que realmente levantam, em alguns momentos, da veracidade de tudo aquilo, mas nada que comprometa muito, um pouco de licença poética é sempre esperado em produções deste gênero.

Em seu terceiro esforço como diretor Ben Affleck continua a demonstrar que estaria melhor atrás das câmeras do que a frente delas, já que seu agente da CIA passa o filme eclipsado pelos seus coadjuvantes, tanto os executivos hollywoodianos quanto os refugiados, e pouco faz para atrair nossa simpatia. Argo revela-se, por fim, um esforço inteligente e sóbrio de um curioso capítulo da história americana.

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