20 de abril de 1999. Dois estudantes do Condado de Jefferson (Colorado / EUA) entram no Instituto Columbine atirando a esmo. O resultado do trágico episódio foram 15 mortes (incluindo os dois assassinos que se mataram logo em seguida) e 25 pessoas feridas. Semanas depois do ocorrido, as pessoas ainda buscavam uma justificativa para o que aconteceu naquela escola. Afinal, quais foram as motivações daqueles garotos de classe média alta em promover esse massacre?

Para escrever “Precisamos Falar sobre o Kevin”, em 2007, A escritora Lionel Shriver estudou dezenas de casos, incluindo este citado anteriormente conhecido como o Massacre de Columbine. Porém Shriver fez algo diferente do senso comum. Através do seu livro ela tentou analisar os casos sob uma perspectiva familiar enquanto muitos questionavam o gosto musical, a maneira de se vestir e o comportamento estranho daqueles assassinos colegiais. No meio de toda aquela confusão, pouca gente se perguntou, por exemplo, quem são os pais desses garotos. A escritora sim.

“Precisamos falar sobre o Kevin” traz Tilda Swinton na pele de Eva, uma mulher de 40 e poucos anos dividida entre o desejo de liberdade e as inúmeras obrigações enquanto dona de casa e esposa. Seu drama só aumenta ao dar à luz ao seu primeiro filho, Kevin (Ezra Miller), um garoto que começa a apresentar um comportamento muito estranho logo nos primeiros anos de vida. A relação conturbada entre mãe e filho é o ponto chave do filme e a diretora Lynne Ramsay mostra isso de uma maneira que deixa o espectador abismado com o comportamento frio e cínico do garoto.

Contando com uma edição primorosa, o filme alterna entre momentos presentes e passados na vida de Eva durante a criação de Kevin. A câmera tremida e fora de foco em alguns momentos transmite uma sensação aterrorizante, quase como se estivéssemos num pesadelo de Eva diante das atitudes terríveis do filho. É um filme difícil de tirar conclusões. Se por um lado, o pai de Kevin (John C. Reilly, excelente) é completamente alheio a situação, sendo muitas vezes permissivo e tolerante demais com o garoto, por outro a mãe sofre para lidar com o monstro que tem dentro de casa que muitas vezes só se manifesta quando está a sós com ela.

«Precisamos falar sobre o Kevin» é um filme forte e denso. É praticamente improvável ficar indiferente diante de tantos absurdos mostrados em tela antes do grande desfecho da história. Um desfecho inevitável levando-se em conte a excelente construção dos personagens de Tilda Swinton e  Ezra Miller no filme.

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