Desde o seu surgimento, há mais de cem anos, o cinema vem mantendo uma relação bastante próxima com a literatura. Pode-se considerar o filme Viagem à Lua, de 1902, como a primeira adaptação literária para o cinema. A inspiração para o filme do cineasta George Méliès (homenageado recentemente em A Invenção de Hugo Cabret) veio de dois livros: Da terra à lua, de Julio Verne, e Os primeiros homens na lua, de H. G. Wells.
De lá pra cá, adaptações cinematográficas de livros e autores diversos foram feitas. Desde os clássicos (como Madame Bovary e Romeu e Julieta) até a literatura fantástica (as sagas Twilight, Senhor dos Anéis e Harry Potter), passando pelos romances de Nicholas Sparks e pelo suspense de Stephen King, autores cujos livros são constantemente transformados em filmes.
Trata-se de um recurso amplamente explorado por Hollywood. Na última premiação do Oscar, por exemplo, seis dos nove indicados a melhor filme – Cavalo de Guerra, O homem que mudou o jogo, Tão forte e tão perto, A invenção de Hugo Cabret, Histórias cruzadas e Os descendentes – eram adaptações de livros. O cinema nacional é também prolífico nesse aspecto. As obras de Machado de Assis e Jorge Amado, dentre outros, foram muitas vezes transportadas para o cinema.
Alguns escritores, especialmente, se destacam pela quantidade de produções para o cinema (e para a TV) originadas de suas obras. É o caso da inglesa Jane Austen, cujas histórias inspiraram vários filmes e minisséries. Austen nasceu em 1775 e morreu em 1817, com apenas 41 anos. Deixou seis livros: Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito, Mansfield Park, Emma, A Abadia de Northanger e Persuasão (os dois últimos publicados postumamente).
A Inglaterra do final do século XVIII serve de cenário para os livros de Jane Austen. E suas personagens centrais são mulheres às voltas com aquilo que, à época, era a principal preocupação feminina: o casamento. Engana-se, entretanto, quem acha que as histórias de Austen são simples romances «água com açúcar». Suas protagonistas femininas são complexas, corajosas, irônicas e inteligentes. E lançam, a todo momento, um olhar crítico aos costumes da vida social que lhes cercam.
O mais celebrado de seus livros, Orgulho e Preconceito, é também o mais adaptado. Foram três filmes feitos para a televisão inglesa (em 1938, 1952, 1958), três minisséries (em 1967, 1980 e 1995, para a BBC) e dois filmes (em 1940 e 2005). O primeiro dos filmes, uma produção americana, contou com o famoso ator Laurence Olivier no papel de Mr. Darcy e com o escritor Aldous Huxley como roteirista. A versão mais recente, uma produção franco-britânica, trouxe Keira Knightley como Elizabeth Bennet.
Razão e Sensibilidade gerou três séries para a BBC e um filme em 1995. A atriz Emma Thompson, que interpretou Elinor Dashwood, recebeu um Oscar por sua adaptação do roteiro. Emma deu origem a três filmes para a televisão, duas minisséries e a um filme, em 1996, com Gwyneth Paltrow como a personagem-título. Os outros livros de Austen, Mansfield Park, Persuasão e A Abadia de Northanger, seguiram pelo mesmo caminho, rendendo telefilmes, minisséries e produções cinematográficas.
A obra de Austen não gerou apenas adaptações fiéis. Houve, também, aquelas que prestaram homenagem ou que podem ser classificadas como paródias. Em «As patricinhas de Beverly Hills» a protagonista Cher é inspirada em Emma. Em «O Diário de Bridget Jones» o personagem de Colin Firth se chama Mark Darcy por causa do Mr. Darcy de Orgulho e Preconceito. O musical «Noiva e Preconceito» é a versão de Bollywood para o clássico de Austen. E no filme «O Clube da Leitura de Jane Austen» um grupo de mulheres se reúne para ler os livros da escritora. A própria Jane foi parar no cinema: «Amor e Inocência», de 2007, inspirou-se livremente em sua vida, trazendo Anne Hathaway no papel principal.
Mais do que casamentos e romances, Jane Austen abordou o comportamento humano. E sendo este um tema universal, entende-se porque suas histórias – seja nos livros, no cinema ou na televisão – continuam despertando o interesse do público, por mais que este público esteja distante cultural e temporalmente das personagens e do contexto histórico sobre os quais Austen escreveu.
at 12:57
Deise,
muito bem colocado, realmente se engana «quem acha que as histórias de Austen são simples romances “água com açúcar”»!
um abraço
at 17:52
Oi, Raquel
Fiquei feliz de ver o seu comentário, sou fã do seu blog. A seção de filmes e séries que você organizou por lá me ajudou muito com a pesquisa para este post.
Abraço.
at 12:59
É verdade a Jane Austen faz muito sucesso no cinema. Mas admito que só vi Orgulho e Preconceito, e um pedacinho de razão e sensibilidade.
E não há nada «água com açúcar» mesmo.
O Clube de Leitura de jane Austen eu adorei! Sou fã fã!
:**
at 19:10
Também só vi adaptações de Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade, Bárbara. Morro de vontade de ver mais. Beijo!
at 21:20
I love Jane Austen <3
at 19:00
Eu também, Gabi <3
at 18:37
Um dos meus favoritos é Persuasão de 2007 feito para tv. 🙂
Não é só o Mark Darcy que é referência a Orgulho e Preconceito em Bridget Jones,acho que o filme inteiro é uma versão moderna do livro. (Adoro o Mr. Darcy do filme de 2005)
at 19:08
Verdade, Karine. Tem muito do livro no filme. Gosto muito de uma das falas da Bridget que é uma adaptação da frase que inicia Orgulho e Preconceito: «é uma verdade universalmente reconhecida que…»
Vou procurar essa versão de Persuasão. Ainda não vi 🙂
at 19:54
Perfeito seu texto, Deise! Eu adoro a Jane Austen e sou uma leitora fiel e telespectadora fiel dos seus livros e adaptações cinematográficas. Acho que ela, além de falar muito bem sobre o comportamento humano, falava sobre o amor da forma mais verdadeira possível, pois, assim como ela, eu também acredito que o amor vem do tempo e do conhecimento entre as pessoas envolvidas. E ainda diziam que ela nada sabia sobre esse tema!!
at 21:57
Obrigada, Kamila! 🙂
at 11:14
Já vi as adaptações para o cinema mais recentes de todos, exceto Emma. Também sou fã de O Clube de Leitura de Jane Austen (ele me incentivou a montar meu próprio clube com uns amigos leitores) e agora estou voando atrás das adaptações mais antigas para o cinema e para a TV. Sou muito, mas muito fã mesmo de Jane Austen. Amo!!
at 11:41
Oi, Victoria, também sou muito fã da Jane! Vi poucas adaptações até agora, apenas as versões pra Orgulho e Preconceito de 1945 e 2005 e o filme de 1995 + a série da BBC de Razão e Sensibilidade. Morro de vontade de ver mais coisas.