Em seu novo filme, Scorsese nos mostra o verdadeiro valor de uma aventura e faz uma bela homenagem à magia do cinema.

Asa Butterfield e Chlöe Moretz em cena de "Hugo Cabret"

“Eu acredito que as pessoas são como as máquinas. Todas elas têm um propósito no mundo. Se uma pessoa perde o seu propósito, é como se estivesse quebrada.” (Hugo Cabret)

Quando se é criança, qualquer evento que fuja da rotina é uma aventura. Viajar, ir ao cinema, passear num parque. Coisas que são tão simples para nós hoje em dia que às vezes até esquecemos o verdadeiro valor que isso representa. Essas “aventuras” são sempre bem vindas, sejam elas arriscadas, emocionantes ou divertidas, pois estão sempre nos ensinando a enxergar o mundo sob um novo olhar. Hoje, no auge dos meus vinte e poucos anos posso dizer que assistir “A Invenção de Hugo Cabret” no cinema foi uma aventura para mim, e das boas.

A história se passa na belíssima Paris dos anos 30, cidade repleta de museus, grandes obras arquitetônicas, cinemas e teatros, um verdadeiro reduto de arte na Europa. Em meio a essa riqueza cultural, somos apresentados a Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto órfão que vive escondido numa estação de trem fazendo a manutenção dos relógios. O garoto guarda consigo um misterioso robô que o seu pai (Jude Law) havia deixado pouco antes de morrer, objeto esse que pertencia a um museu para o qual trabalhava.

O garoto, agora sozinho no mundo, sobrevive realizando pequenos furtos na estação de trem. Um dia, ao tentar fugir do inspetor (Sacha Baron Cohen), Hugo conhece Isabelle (Chloe Moretz) que logo se torna sua melhor amiga. Curiosamente, Isabelle possui uma chave em formato de coração que se encaixa perfeitamente na fechadura existente no robô que Hugo está tentando consertar, a missão deles é desvendar o mistério que cerca aquela invenção. Os dois nem imaginam o quanto a amizade entre eles e a mensagem deixada através do robô vai mudar o destino de todos.

Até esse ponto, o filme tem aquela cara de aventura fantástica com crianças talentosas, marca que consagrou Spielberg em seus filmes. Mas, o lado Scorsese começa a se revelar quando aquela chave faz o robô voltar a funcionar e temos ali uma verdadeira obra de arte. O que seria uma simples mensagem deixada pelo pai de Hugo através desse robô se transforma em uma linda homenagem ao cinema e um dos seus principais precursores, George Meliès (1861 – 1938), que não por acaso é o avô de Isabelle no filme.

É interessante ver o estilo quase documental que Scorsese adota em alguns momentos do filme, explicando quem era Meliès e como sua obra foi esquecida no decorrer dos anos por causa da guerra e da chegada de novos cineastas. Mas os momentos mais interessantes são os bastidores das produções. Como eram realizados os filmes antigos e a criatividade necessária para causar impacto nos espectadores tendo poucos recursos financeiros e tecnologia quase nula. Me senti em um cinema dos anos 30, mesmo que por poucos minutos. O 3D é um complemento interessante, é muito bem aplicado, não atrapalhando a experiência de estar assistindo um filme de época.

Mais do que uma simples aventura, “A Invenção de Hugo Cabret” é um filme necessário para quem ama cinema, literatura ou qualquer tipo de arte. Além disso, é um belo filme sobre determinação e paixão por algo em que se acredita. Meliès acreditou no cinema e se jogou de cabeça na magia da sétima arte. Ele conhecia os riscos, mas tinha um propósito, assim como Hugo, Isabelle e tantos outros personagens ao longo dessa história. Eu acredito que essa é a mensagem mais rica que um filme como esse pode passar tanto para crianças quanto para adultos.

*Saiba mais sobre A Invenção de Hugo Cabret

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