O ano é 1971. Os Novos Baianos estão em seu apartamento no Rio de Janeiro quando a campainha toca e, do outro lado da porta, está um homem de terno. Os integrantes do grupo ficam aflitos pensando tratar-se da polícia, mas, para sua surpresa, o visitante de terno se identifica como João Gilberto.
Você já deve ter ouvido essa história, normalmente contada pra lembrar a influência do ícone da bossa nova sobre Moraes Moreira, a então Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Galvão, Paulinho Boca, Dadi e cia. Em torno do encontro, é bem verdade, pairam muitas dúvidas e alguma polêmica. Paulinho Boca e Galvão já desmentiram partes da história. De acordo com um, quem batia à porta era «um amigo de São Paulo que apareceu todo engravatado”. Para o outro, não teria como a história ser verdadeira porque, como saberia qualquer um que o conhecesse, «João Gilberto não toca a campainha de ninguém».
Controvérsias à parte, fato é que dali em diante a influência de João Gilberto se fez sentir de forma intensa sobre os Novos Baianos. A prova mais evidente disso é o disco Acabou Chorare, de 1972. É esse momento – e, mais do que o momento, essa filiação, como o próprio título sugere – que serve como ponto de partida para o documentário Filhos de João – o admirável mundo novo baiano, dirigido e roteirizado por Henrique Dantas. O filme é de 2009, mas só recentemente chegou ao circuito local.
Ao longo dos seus 76 minutos de duração assistimos aos depoimentos de Tom Zé, Rogério Duarte, Solano Ribeiro, Armandinho e de vários membros do grupo, fazendo-se notória, no entanto, a ausência de Baby do Brasil, que não autorizou a inserção de sua entrevista no documentário.
Filhos de João é bastante competente naquilo que se propõe: conta a história do grupo do início ao fim, explorando sua formação em Salvador, a origem do nome («chama aí esses novos baianos»), o contato com João Gilberto, a convivência numa comunidade quase anárquica num sítio em Jacarepaguá, e a sua separação. Os recursos exibidos – vídeos raros e a trilha sonora – empolgam o espectador, e a vontade que dá ao sair do cinema é a de não ouvir nada além de Novos Baianos por, sei lá, um mês.
at 15:04
Gostei bastante desde documentário, conhecia pouco da história dos novos baianos e, para mim, foi muito interessante mesmo. E a participação de Tom Zé é o melhor do filme.
at 16:41
Eu não sou dos maiores fãs de documentários, brasileiros então … nem se fala, enfim …
at 22:29
é curioso como o cinema nacional tem certas peculiariedades que são tão pouco conhecidas, muitas vezes.
Não conhecia o Cine Mosaico, adorei cada sessão que percorri, desde então. Parabéns pelo trabalho! 😉
abraços
http://www.cinefreud.com