Não me abandone jamais (Never let me go)

“Às vezes me pergunto se nossas vidas foram tão diferentes das que ajudamos a salvar” (Kathy)

Quando a possível cura das principais doenças da humanidade fora descoberta em1952 através de doações de orgãos, diversas instituições foram construídas com o objetivo de “preparar” os doadores para salvarem . Um desses lugares é Hailsham, na Inglaterra, uma escola tradicional e altamente rígida onde os alunos seguem religiosamente os métodos que a instituição impõe. No local, somos apresentados a Kathy (Carey Mulligan), Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley), três crianças que estão começando a descobrir o sentido de suas vidas.

Hailsham era quase um campo de isolamento, que mantinha seus “internos” sob controle à base de histórias assustadoras sobre crianças que já tentaram fugir do local. Entre outras atividades, as crianças eram obrigadas a praticar esportes e produzir todo tipo de arte para uma misteriosa galeria sem que soubessem de sua condição de doadores de orgãos num futuro bem próximo. Enfim, o principal objetivo da instituição é manter os alunos sob o seu domínio, deixando claro que eles não tinham escolha.

As lembranças do local acompanham Tommy e Ruth até a idade adulta, quando já debilitados por incansáveis doações. Já Kathy permanece na função de cuidadora enquanto espera por sua primeira doação. Desde que uma professora revelou para eles o real propósito da Hailsham e de outras tantas escolas do mesmo perfil, eles aceitaram o destino que lhes for a imposto desde a infância e buscam desempenhar um bom papel como doadores desde então.

Conforme os protagonistas vão crescendo, mergulhamos em seus conflitos internos e fica mais difícil não se envolver com o drama, sobretudo porque vemos as situações através do olhar sensível e inocente de Kathy, a mais determinada em «cumprir sua missão». Mas apesar da passividade e inocência dos personagens, o longa se afasta do melodrama, deixando o julgamento de valores nas mãos do espectador até a cena final.

“Não me abandone jamais” provoca muito incômodo ao levantar questionamentos que a maioria das pessoas prefere evitar. Talvez essa tenha sido a maior intenção de Kazuo Ishiro ao escrever o romance homônimo que deu origem ao filme. Sob a direção de Mark Romanek (Retratos de Uma Obsessão), o filme mantém um caráter crível na relação entre os personagens e nos deixa no mínimo pensativos ao final da projeção.

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