Melancolia (Melancholia)É impossível começar a falar de “Melancolia” sem mencionar a figura polêmica por trás do projeto: Lars Von Trier. O cineasta é conhecido por declarações que já renderam muita discussão e revolta, sendo a última no Festival de Cannes onde foi tido como persona non grata após uma conturbada coletiva de imprensa. Von Trier é um diretor singular cujo estilo é amado e odiado na mesma proporção. Incrivelmente, a recepção de “Melancolia” (ao menos no Festival) foi extremamente positiva, o que não é comum na maioria dos trabalhos do diretor.

Nas primeiras cenas do filme uma imersão ao mundo idealizado pelo cineasta acontece através de uma arrebatadora sequência de imagens em super slow motion que mistura ações dos personagens do filme e eventos naturais (e sobrenaturais, por que não?). Resta ao espectador apreciar esse momento e aceitar a beleza das imagens é consequência de uma possível tragédia.

Justine – O filme é dividido em duas partes. No primeiro momento, somos apresentados a Justine (Kirsten Dunst, As Virgens Suicidas), uma jovem que está prestes a se casar numa luxuosa mansão. A mega festa planejada por sua irmã Claire (Charlotte Gainsburg) e bancada por seu esposo John (Kiefer Sutherlan) tinha tudo para ser a realização de um sonho, não fosse o estado em que a noiva se encontra. Justine se esforça para parecer feliz diante dos convidados, mas algo lhe causa extrema angústia.

Esse sentimento se materializa em cenas que incomodam e ao mesmo tempo encantam o espectador. Numa mesma sequência, vemos Justine ir do silêncio ao descontrole, seguida por uma câmera nervosa que em nenhum momento deixa o espectador esquecer o estado depressivo da protagonista. Sabemos que algo terrível está para acontecer, mas o choque do planeta Melancolia com a Terra acaba se tornando um detalhe perto da profundidade dos personagens, ao menos nesse momento do filme.

Claire – O segundo momento do filme é dedicado a mostrar o quanto a aproximação do planeta Melancolia afeta de formas diferentes cada um dos personagens. Claire, outrora uma jovem aparentemente equilibrada e presa a rituais, aos poucos se entrega ao desespero na medida em que Melancolia se aproxima da Terra.

Von Trier queria deixar claro que não é um filme sobre o fim do mundo (como a maioria das sinopses pode sugerir), é um filme sobre estado de espírito. Por isso, vemos os acontecimentos pelos olhos de personagens tão diferentes. Para Justine, não havia mais o que fazer para evitar a colisão entre os planetas. Segundo ela, a existência da humanidade é marcada essencialmente pela maldade e nisso ela se apoia para aceitar o fim e não se amedrontar. Esse ceticismo de Justine é o contraponto perfeito com o personagem de Keith Sutherland, que descarta a colisão entre os planetas baseado numa simples crença científica.

“Melancolia” é repleto de símbolos e detalhes que podem passar despercebido aos olhos dos menos atentos. Não é um filme fácil de descrever, muito menos de indicar. Nem todas as pessoas estão dispostas a se deixar ser pego por algo tão perturbador e, por que não, incerto. A única certeza que tenho é: você pode até não gostar de “Melancolia”, mas não vai conseguir ficar indiferente ao final do filme.

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