«É preciso formar as novas gerações para pensar o cinema como arte, não só entretenimento e mercado.» (Walter Lima)

Um dos mais importantes eventos sobre cinema se inicia hoje em Salvador. Na sua sétima edição, o seminário internacional de cinema (CineFuturo) conta com uma programação imperdível para os amantes da sétima arte na qual destaca-se exibições de filmes de Bernardo Bertolucci, a mostra competitiva de curtas e a mostra internacional de filmes onde será lançado o novo longa do cineasta baiano Edgard Navarro, «O Homem que não dormia». Além disso, as atividades incluem palestras, WorkShops, diálogos e mesas redondas com profissionais consagrados do meio audiovisual. Nessa entrevista, o baiano Walter Lima, cineasta idealizador e coordenador do CineFuturo, fala sobre cinema de arte, a importância e as dificuldades para realizar a sétima edição do seminário internacional de cinema em Salvador:

Qual a sua maior motivação para prosseguir à frente de um evento voltado para a Sétima Arte?

Como fui aluno de Walter da Silveira, que formou gerações, tenho o compromisso também de passar isso, um pouco do que aprendi. E vivi essa experiência na Bahia, quando era uma província, sem nenhuma informação. Com um sentimento de continuidade, eu tenho esse lado de realizador e animador cultural. Quando fui diretor da Imagem e Som, criei a Sala Walter da Silveira e o Cinema do Museu. Nós formamos duas gerações, trazendo o que havia de melhor em termos de programação de filmes, cinema de qualidade. Como disse o mestre do cinema soviético Sergei Eisenstein, “o cinema é a síntese de todas as artes.” É preciso, então, formar as novas gerações para pensar o cinema como arte, não só entretenimento e mercado. O cinema filosófico, poético, humanístico, este cinema está desaparecendo.


Qual o perfil do Seminário e como tem sido a sua repercussão?

Trazemos para o público um mix de festival, porque você tem que ter filmes bons, pessoas interessantes, qualidade na projeção, logística, atualidade e glamour. E é um seminário, do ponto de vista acadêmico, porque traz o debate, as ideias, a polêmica. Todas essas mídias novas e a tecnologia se tornam uma janela para nós. É preciso juntar conteúdo e forma. O Seminário já é um evento consolidado que faz parte do calendário cultural de Salvador. Podemos ver o resultado, a repercussão, a presença maciça do público, especialmente os jovens, e os desdobramentos naturais de um acontecimento desse porte, que dura seis dias e é realizado em vários espaços.


Quais as dificuldades para chegar a esta sétima edição?

Este ano, o formato está mais enxuto (ficou de fora o encontro de Produtores e Distribuidores, e o número de mesas-redondas foi reduzido de seis para quatro), devido à falta de verbas. O Ministério da Cultura entrou com 30% dos recursos com relação ao ano passado, e com relação ao Fazcultura, perdemos 50%. Pouco mais de R$ 300 mil não dá para nada. Falta sensibilidade do governo e das empresas privadas. A Bahia, não só no cinema, está culturalmente atrasada. Claro que o cinema é pior porque se trata de uma arte muito cara, que se apóia em um tripé – produção, distribuição e exibição. A produção praticamente não existe mais aqui. Pernambuco está muito melhor. A Bahia é o berço da cultura brasileira, mas se não leva isso a sério.

Mas a programação continua atraindo o grande público…

Apesar da falta de dinheiro e das dificuldades que isso causa, conseguimos garantir uma programação muito boa, de qualidade, trazendo personalidades importantes e grandes colaboradores. Mantendo a tradição, fazemos mais uma homenagem a um grande nome do cinema, com a Mostra Retrospectiva Bernardo Bertolucci. Em outras edições, foram Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard e Píer Paolo Pasolini. Nossa lista ainda tem mais uns 20 nomes. Faltam, por exemplo, Orson Welles, Fellini, Truffaut e Hitchcock.

* O cineasta baiano Walter Lima, esteve à frente da Diretoria de Imagem e Som (DIMAS) da Fundação Cultural do Estado da Bahia, nos anos 70. Naquela época, criou a Sala Valter da Silveira e o Cinema do Museu. No âmbito internacional, foi produtor do último filme do diretor chileno Miguel Litin “Dawson Isla 10”, lançado no ano passado, no VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, no TCA. Atualmente, ele cuida do lançamento do seu longa-metragem “Antonio Conselheiro, o Taumaturgo do Sertão”, que levou cerca de 25 anos para ficar pronto, em meio a muitas adversidades. Ainda assim, Walter Lima já se articula para realizar o próximo filme, “América do Sol”, que define como “um panorama crítico da elite brasileira.”

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