Destaque do primeiro dia de atividades do Cine Futuro, a exibição do documentário «Augusto Boal e o teatro do oprimido» do cineasta Zelito Viana trouxe para o público a memória de um visionário dramaturgo brasileiro que, infelizmente, não teve seu valor reconhecido no país.
Augusto Boal acreditava que o teatro deveria ser utilizado por «não-atores» como uma ferramenta de reflexão política e transformação social. Somente dessa maneira alguns indivíduos poderiam sair da condição de oprimido e expor suas ideias e sugestões para a mudança de uma condição social, cultural e política.
Foi desse pensamento que surgiu o teatro do oprimido, que consiste na aplicação de diversas técnicas e exercícios corporais utilizados para romper a barreira entre «artistas» e «platéia». Nas palavras de Augusto Boal, O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores – porque atuam – e espectadores – porque observam. Somos todos «espectatores».
Importante lembrar que esse movimento surgiu nos anos 1970, época de extrema repressão a qualquer iniciativa cultural que ameaçasse a ideologia do governo em vigor. Significa que o conteúdo político das peças dirigidas por Boal e a influência do seu discurso na sociedade inevitavelmente chamou a atenção do regime militar. Com o material quase todo censurado no país, Boal sofreu com a pressão do governo e foi obrigado a ficar exilado por 10 anos na Europa. Lá, o dramaturgo teve a oportunidade de propagar o teatro do oprimido e utilizá-lo da maneira que planejava desde o início, como uma ferramenta de inclusão e cidadania.
O método de representação criado por Boal, assim como sua aplicação em diversos segmentos da sociedade até os dias de hoje são os pontos fundamentais do documentário Augusto Boal e o Teatro do Oprimido. Com depoimentos do próprio Boal, além de figuras importantes na sua vida e carreira como Ferreira Goulart, Chico Buarque e Cecília Boal, o documentário é o mais completo registro audiovisual sobre o teatro do oprimido e sua importância como ferramenta social no Brasil e no mundo.
Augusto Boal faleceu em 2 de maio de 2009 aos 75 anos na cidade do Rio de janeiro após 50 anos em atividade. Hoje as técnicas criadas por ele são utilizadas em mais de 50 países e estudadas em respeitados centros acadêmicos ao redor do mundo, além de estar presente também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional. Uma figura importantíssima na dramaturgia e que merece ser descoberto pelo grande público.
at 14:48
Nós brasileiros perdemos e desvalorizamos muita coisa boa que temos por aqui, para dar valor à cultura estrageira e seus talentos.
:***
at 20:44
Excelente texto. Fiquei curiosa para assistir ao documentário!
at 9:56
Obrigado Kamila. Procure mesmo esse documentário pq vale a pena.
Abs.
at 9:57
É verdade Barbara. Figuras como Augusto Boal são esquecidas em meio ao bombardeio de cultura estrangeira.
:-*