Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole)“Um dia, a dor em seu coração pode ser arrancada e transformada em um tijolo que você levará em seu bolso. De vez em quando, você vai olhar pra ele e se perguntar: O que é isso? E logo vai lembrar novamente do que aconteceu. Vai incomodar no início, mas você se acostuma com o tempo.”

Ao perguntar à mãe se a dor de perder um filho pode ser esquecida algum dia, Becca (Nicole Kidman, As Horas) talvez não esperasse uma resposta tão forte e sincera. Segundo Nat (Diane Wiest), não se pode esquecer um episódio como este, mas tentar conviver com isso e seguir em frente.

«Reencontrando a Felicidade», drama dirigido por John Cameron Mitchell (Shortbus – 2006), conta a história de um casal de classe média que passa por um momento complicado na relação. Os dois estão tentando se recuperar da tragédia que aconteceu com o filho há 8 meses. A morte do garoto, que era filho único, desestruturou não só a relação do casal, como também os laços entre Becca, sua mãe e sua irmã.

A história se desenrola à medida que as diferenças do casal vão se manifestando em tela. Becca quer se livrar das lembranças do filho e não permite a aproximação de ninguém que queira trazer uma palavra de conforto (sobretudo religiosa). Já Howie, seu esposo, busca auxílio de outras pessoas para suportar a dor, mas não quer que as lembranças do filho se percam com o tempo. Esse conflito é interessante e ao mesmo tempo estranho ao passo que ambos  procuram um ponto que possa justificar suas atitudes no relacionamento. Na verdade, nenhum deles esqueceu o acontecido. Nenhum deles quer esquecer.

O filme passa longe de ser um melodrama ou guia espiritual sobre perda de entes queridos. Mesmo assim, a sua maneira de mostrar os fatos é tão delicada quanto o próprio tema em questão. Grande parte dessa carga dramática do filme vem do desempenho do casal protagonista interpretado por Nicole Kidman e Aaron Eckhart. Ambos estão muito bem em cena e transmitem a emoção necessária para sensibilizar o espectador.

“Felicidade” não seria a palavra mais apropriada para o título de um filme como este. Não que os personagens não estejam querendo reencontrá-la, como sugere o título. Acontece que o caminho é árduo (e infinito, eu diria) até esse objetivo. Felizmente, o filme não segue uma «fórmula auto-ajuda» de como lidar com as dores do luto. Aliás, respostas acerca desse tema o espectador não vai ter, nem mesmo no final (ou seria um novo início?).

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