As Horas (The Hours)A insatisfação e o fracasso são temas de um drama sensível que retrata os conflitos humanos em diferentes épocas. “As Horas”, filme baseado no romance homônimo de Michael Cunningham, acompanha um dia na vida de três mulheres que compartilham experiências semelhantes mesmo tendo vivido em tempos tão distantes.

A primeira cena de «As Horas» se passa no em 1929 e descreve toda a carga dramática que o filme expõe em suas quase duas horas de duração. Vemos uma mulher até então desconhecida, vestida em trajes rigorosos andando em direção a um rio. Ela está determinada a por fim a própria vida.

A moça em questão é Virginia Woolf (Nicole Kidman, Esposa de mentirinha, Reencontrando a Felicidade), uma escritora que está começando a escrever seu mais novo livro intitulado “Mrs. Dalloway”. Afastada da vida agitada de Londres por influência do marido, Woolf vive sob cuidados médicos numa pequena cidade do interior e manifesta um desequilíbrio emocional ao se sentir sufocada no ambiente onde se encontra. A narração da cena inicial, feita por ela mesma, expõe a sua infelicidade ao acreditar que está sendo um empecilho na vida do marido.

Longe daquele local na Los Angeles de 1949, o espectador acompanha um dia na vida de Laura Brown (Juliane Moore, Minhas mães e meu pai). Aparentemente, Laura vive nos padrões esperados para um moça da época. Casada, mãe, dona de casa e grávida, ela ainda arruma tempo para planejar uma festa de aniversário para o marido. O detalhe é que justamente nesse dia, ela não consegue parar de ler o “Mrs. Dalloway”de Virginia Woolf.

Já nos dias atuais, conhecemos Clarissa Vaughn (Meryl Streep, O diabo veste Prada), uma editora de livros que vive em Nova York. Clarissa está planejando uma festa para Richard (Ed Harris), um escritor e ex-amante que hoje enfrenta a Aids. O dia de Clarissa passa por diversas turbulências e todos esses acontecimentos são descritos no livro de Virginia Woolf, escrito há mais de 70 anos.

Temos então 3 histórias interligadas. Virginia está escrevendo, Laura está lendo e Clarissa está “vivendo” a história do livro. Épocas diferentes, mulheres diferentes, contextos diferentes, mas no fundo o sentimento das três é o mesmo: decepção. Seja no casamento ou na carreira profissional, todas elas carregam consigo a dor de não terem conseguido alcançar seus objetivos.

As três personagens impressionam pela capacidade de transmitir seus sentimentos de uma maneira consistente e sem máscaras. O trio formado por Nicole Kidman (irreconhecível no papel, diga-se de passagem), Juliane Moore e Meryl Streep sustenta o filme com interpretações maravilhosas. A competência desse elenco de peso somado a ambientação das três épocas distintas é o destaque dessa produção. Houve um trabalho eficiente em fotografia, cenários e trilha sonora, que contribuem para diferenciar os locais onde se passam essas histórias  tão semelhantes e diferentes ao mesmo tempo.

Apesar das várias idas e vindas de tramas paralelas, «As Horas» não é um filme difícil de entender. Revelando os momentos mais complicados na vida de seus personagens, ele é uma daquelas obras que permanecem na memória horas depois do término, nos levando a refletir sobre a opressão que essas mulheres sofreram, devido a uma cobrança da sociedade por uma postura «ideal» que elas deviam manter.

O resultado disso é mostrado da maneira mais crua e dramática possível. As situações extremas vivenciadas pelos personagens são de fácil identificação com o espectador, afinal todos nós vivemos as horas, os períodos, as dificuldades, os relacionamentos… Não estamos isentos de resultados negativos em todas essas experiências. Um filme marcante com ótimo roteiro e interpretações memoráveis.

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