BurlesqueMais uma vez vemos uma situação que já foi mostrada aqui nesse blog: Uma cantora que quer «atacar de atriz». Como vimos no post sobre o assunto, algumas vezes essa experiência pode dar certo e outras não. “Burlesque”, musical dirigido Steve Antin, deixa claro que nesse estilo de filme é muito mais importante ter uma atriz de verdade em cena do que uma cantora de sucesso com vontade de atuar. O filme mostra duas performances destoantes de Christina Aguilera, sendo que nos palcos a cantora faz bem o que já está acostumada, mas fora dele está num nível de atuação comparável a Britney e Mariah Carrey em seus respectivos filmes fracassados.

Na trama, Aguilera interpreta Ali, uma garota do interior de Iowa, que decide largar a sua vidinha pacata e ir em busca de um sonho em Hollywood. Claro que esse sonho é se tornar uma estrela da música e naturalmente ela tem que encontrar um lugar em que possa mostrar o seu talento. Depois de bater em várias portas e ser rejeitada (estou deduzindo, pois isso não fica claro no filme), a garota encontra a deslumbrante boate Burlesque, administrada pela ex-dançarina de cabaré Tess (Cher). Lá a garota agarra a oportunidade de trabalhar inicialmente como garçonete, mas logo ganha os palcos e vira destaque no local.

Percebeu o abuso de clichês? Ele é notório e está de mãos dadas com o andamento do filme. A garota caipira que sai do interior em busca de um sonho na cidade grande, a oportunidade de brilhar em uma casa de shows, a descoberta de um mundo repleto de glamour e fama, a conquista de um espaço nesse meio, a rivalidade com uma dançarina veterana da boate, a relação mãe e filha com a dona do local, o amigo gay (elemento obrigatório) que está sempre ali por perto, uma paixão repentina por um barman-músico… Enfim, os ingredientes perfeitos para uma história comum e pouco original.

Mas, nem tudo está perdido. Ao contrário do que possa parecer na descrição acima, “Burlesque” como musical não é ruim, aliás, o filme está mais para um drama bobinho cercado de música do que para um musical grandioso como “Moulin Rouge” ou “Chicago”. Seria injusto comparar. Em “Buslesque” as músicas estão mais presentes na boate durante os espetáculos e são nesses momentos que o filme funciona melhor. A coreografia, o desempenho das bailarinas, o figurino, músicas, luzes, som e cenário foram preparados cuidadosamente para Aguilera brilhar em cena na sua estréia como atriz (ou seria cantora de cinema?).

A personagem Alice exigiu de Christina Aguilera muito mais desenvoltura nos palcos do que fora dele e nisso, a cantora não fez feio. Soube dominar com simpatia (pasmem) os momentos em que precisava cantar e dançar. Por outro lado, a Aguilera fora dos palcos está completamente sem graça e chega a soar forçado todas aquelas expressões e caretas dignas de vergonha alheia. A direção não se arrisca em fugir da fórmula batida da garota em busca de um sonho. Com isso, todos os holofotes são voltados para Aguilera, numa tentativa de engrandecer ao máximo sua voz. Não há como negar que a moça rouba a cena nos momentos em que aparece. Mas, ao tratar o filme como um show particular de Aguilera ou uma coletânea de videoclipes da cantora, a história deixa de explorar alguns personagens interessantes como Sean (Stanley Tucci de “O diabo veste Prada”) que nos poucos momentos em que aparece ao lado de Cher demonstra uma boa afinidade.

Para os fãs de Cher não restou muita coisa. A lenda da música, ganhadora do Oscar em 1987 por “Feitiço da Lua”, aparece pouco e bem apagadinha. Seu momento mais significativo é durante a interpretação da belíssima música “You haven’t seen the last of me” (ganhadora do Globo de Ouro), que não tem nada haver com o contexto da cena, mas não deixa de ser emocionante. Já os fãs de Aguilera não terão do que reclamar. A cantora pop empresta sua voz a quase todas as músicas da trama, deixando apenas duas para Cher.

Não espere profundidade na história, os conflitos vividos pelos personagens não trazem nada de novo fãs de musicais. O roteiro pouco ousado valoriza demais a presença das duas divas em cena, esquecendo-se da carga dramática que envolve os demais personagens. Sem falar na resolução da trama que é muito previsível, e comprova como tudo no filme é uma desculpa para fazer Aguilera cantar. Mas, se o contexto da trama for ignorado (ou seja, toda a historinha boba), é possível se divertir com os espetáculos musicais, que é o ponto forte do universo Burlesco.

Tags: